Apesar das abundantes colheitas de cereais, que incrementaram a oferta mundial de alimentos em 2017, a fome aumentou. Atualmente, 37 países — dos quais 29 estão localizados na África — precisam de ajuda externa para garantir que suas populações tenham o que comer. É o que revela a nova edição do informe “Perspectivas de colheitas e situação alimentar”, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Segundo a agência da ONU, secas localizadas, inundações e conflitos prolongados estão por trás do recrudescimento da insegurança alimentar, que afeta 815 milhões de pessoas no planeta. De acordo com o levantamento do organismo internacional, guerras são um “fator-chave” das crises de fome identificadas no norte da Nigéria, Sudão do Sul, Iêmen, Afeganistão, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Síria.
A FAO ressalta ainda que adversidades climáticas afetaram — e continuam influenciando negativamente — a produção agrícola no leste da África, tomado por estiagens, e em regiões da Ásia, atingidas por inundações.
Em Bangladesh, por exemplo, três enchentes repentinas prejudicaram as colheitas de arroz do país. Produção do vegetal só deverá se recuperar plenamente após um período estimado em, no mínimo, cinco anos. A situação levou ao aumento das importações, bem como dos preços do trigo, cereal utilizado em produtos com farinha, normalmente mais baratos. Na Mongólia, uma seca grave reduziu pela metade a colheita de trigo.
Na Etiópia, 8,5 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar devido a estiagens. No Quênia, temporadas consecutivas de chuvas fracas provocaram quedas na produção agropecuária, deixando 2,6 milhões de indivíduos enfrentando fome considerada grave pela FAO.
Guerra e fome
Na República Centro-Africana, 1,1 milhão de pessoas — quase um terço de toda a população nacional — precisa de assistência emergencial para obter comida. Na República Democrática do Congo, outras 7,7 milhões enfrentam fome aguda — o país acolhe mais de 200 mil refugiados e contabiliza, dentro de seu território, 4 milhões de congoleses internamente deslocados. Ambas as nações são palco de confrontos armados.
A FAO identificou consequências similares nas situações de conflito ao norte da Nigéria, onde mais de três milhões de indivíduos precisam de ajuda urgente e de proteção dos seus meios de subsistência. No Sudão do Sul, 45% da população — cerca de 4,8 milhões de pessoas — passa fome. De um ano para cá, duplicou o número de sul-sudaneses enquadrados na fase 4 — “emergência” — da classificação utilizada pela agência da ONU para mensurar a insegurança alimentar.
Na Somália, triplicou o contingente de cidadãos que passam fome. Em torno de 3,1 milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar severa, de acordo com a FAO. No Iêmen, 17 milhões de pessoas — 60% de todos os iemenitas — precisam urgentemente de ajuda humanitária.
A fome crônica causada por guerras também foi detectada pela FAO no Afeganistão — onde vivem 7,6 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar moderada ou grave; no Iraque, onde 3,2 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária; e na Síria, onde a fome afeta 6,5 milhões de indivíduos.
Segundo a FAO, outros países precisam de apoio externo para satisfazer as necessidades alimentares básicas de suas populações. São eles Burundi, Camarões, Chade, Congo, Coreia do Norte, Djibuti, Eritreia, Guiné, Haiti, Lesoto, Libéria, Líbia, Madagascar, Malauí, Mali, Mauritânia, Moçambique, Mianmar, Níger, Paquistão, Serra Leoa, Sudão, Suazilândia, Uganda e Zimbábue.
Apesar das tendências negativas a nível local, a produção mundial de alimentos está em expansão, ressalta a FAO, mesmo em países de renda baixa onde falta comida. Nessas nações, a produção total de cereais deverá crescer 2%.