Há vários desgovernos que a gente percebe que logo que o “cara” se elege, consulta o “marketeiro de plantão” para saber como deve agir para garantir a reeleição, no caso dos governos executivos, ou para se “perpetuar” em sucessivas reeleições, nos casos dos poderes legislativos. É só acabar uma eleição que eles dão início a outra. Os legisladores buscando o Executivo, seja uma prefeitura, um governo estadual ou a presidência. Os executivos sem possibilidade de reeleição visando um cargo legislativo. Desse modo, nenhum deles está preocupado em ações de longa duração que beneficiem o futuro do Brasil e dos brasileiros. É uma campanha eterna e ininterrupta.
Os males para o país estão aí mesmo. O Poder Judiciário, por ser quase vitalício, ocupa um espaço que deveria ser dos legisladores e acaba tomando decisões “legislativas” para garantir algum direito aos cidadãos. Essa interseção logicamente não é saudável, mas tem sido rotineira no Brasil pela omissão dos políticos que só pensam em se reeleger a todo custo.
O mais recente exemplo dessa neurose política nacional é a postura do presidente Bolsonaro. Não governa porque governar exige risco e ele não pode corrê-los sob pena de não se reeleger. Assim, faz qualquer sandice para manter o grupo de apoiadores. Acirra o radicalismo para garantir uma tropa de defensores e eleitores, definindo o “nós” e “eles”, “amigos e inimigos”. Quando o lógico para uma liderança seria buscar o entendimento, a união, a pacificação em prol de um futuro melhor para todos, não só para os “correligionários”.
Assim também pensam os presidentes da Câmara e do Senado. Não lideram, apenas somam mais inércia à falta de iniciativa do Executivo. Em mais de dois anos de mandato fizeram uma reforma capenga da Previdência, que já vinha do desgoverno Temer e aprovaram medidas emergenciais para socorrer as pessoas com recursos financeiros na pandemia, algo inevitável e óbvio e pararam por aí. Ajudaram ao desgoverno Bolsonaro a expor milhões de brasileiros ao vírus ao não reagir de forma enérgica à desinformação e desordem provocadas pelo Executivo Brasileiro. Cruzaram os braços enquanto deixavam ao Supremo Tribunal Federal a tarefa de confrontar o governo federal.
Passados mais de cinco meses da chegada da pandemia ao país jamais confrontaram o presidente, nem aprovaram leis de reforço ao Sistema Único de Saúde e de apoio aos profissionais na linha de frente. Todos só falam para os seus eleitores e através das redes sociais. Medem e reagem conforme os “robôs” são acionados.
Em todas as áreas essenciais à vida nacional, o governo federal e o parlamento falham. Qual a marca desse desgoverno na Educação? Escolas sem orientação como reabrirão em meio à pandemia, desorientação dos currículos com escolas fechadas, falta de um plano nacional de educação à distância. Na Saúde? Mais de 100 mil mortos pela Covid-19 e SUS se virando como pode em Estados e Municípios. No Meio Ambiente? Desregulamentação e aumento do desmatamento. Na Área Social? Aumento da violência contra a mulher e atos de racismo; abandono de programas de suporte e reinserção; abandono dos povos indígenas. Na Justiça e Segurança? Aumento da violência policial, enfraquecimento da Polícia Federal; ações para desmoralizar adversários políticos; desregramento do sistema prisional. Na Economia? Aumento da carga tributária, benefícios aos mais ricos, penalização do trabalhador, abandono das micro e pequenas empresas. Na Cultura? Na Ciência e Tecnologia? Ministério por ministério este desgoverno só tem coisas ruins a apresentar à população. Nada que marque positivamente. Ah! Estão dando R$ 600 reais para ajudar as famílias, mas até nisso falhou. Queria só dar R$ 300 e o sistema agravou a pandemia com filas quilométricas nas agências e falha nos acessos por meio digital.
E não há nada no horizonte que nos indique um futuro promissor. O êxodo de brasileiros ainda não está ocorrendo de forma forte e consistente porque o descontrole brasileiro da pandemia fechou as fronteiras de diversos países para nós.
Com anos de recessão pela frente e a possibilidade de um segundo desgoverno Bolsonaro a corrida às fronteiras será inevitável, esvaziando o país de possibilidades promissoras.
Enquanto esse sistema eleitoral não for reestruturado, acabando com a possibilidade de reeleição em todos os níveis, as mordomias e dinheiro fácil no bolso de uma casta política ineficiente, cara e corrupta, esse país não terá futuro.