Os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica deveriam convocar o almirante de Esquadra Almir Gamier Santos, o general de Exército Paulo Sergio Nogueira de Oliveira e o brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior para esclarecer porque assinaram uma nota em defesa das Forças Armadas. Em nenhum momento elas foram atacadas. Os militares que estão nos quartéis não são alvo da CPI. Afinal, ela tem fato a apurar bem definido: os motivos que levaram o Brasil a ter mais de 500 mil mortos na pandemia do coronavírus. E está claro para toda a população que as Forças Armadas só foram acionadas para produzir cloroquina durante a pandemia.
Quem está sob investigação não são as Forças Armadas. Veja o que diz a Constituição.
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Quem está sob os holofotes são os militares que deixaram os quartéis para atuar politicamente. E aí não tem espaço para choro. Quem está na chuva é para se molhar. Se um militar deixa a caserna e vem ao mundo civil fica exposto e sujeito a críticas e caminhar sob a lupa do cidadão e das autoridades, afinal o mundo civil é área de embates políticos que balizam a Democracia e a Civilização.
Por diversas e reiteradas vezes, os comandantes militares foram alertados do risco dessa promiscuidade com o mundo político que maculava os ditames constitucionais.
Mas ao ter a digital identificada em atos pouco republicanos, milico em cargo civil, covardemente recorreu à proteção corporativa.
Porque foi isso que aconteceu com essa nota.
Ao saber que existem oficiais de alta patente suspeitos de participar de tenebrosas transações, os altos oficiais que assinaram a nota, no lugar de mandar investigar os suspeitos atacaram o investigador. Ou seja, assumiram que estão todos juntos e misturados. Jogaram as Forças Armadas na vala comum dos investigados quando deveriam se manter afastados das discussões políticas.
Deveriam seguir o exemplo do chefe do Estado Maior das Forças Armadas americanas, General Mark Milley. Ele pediu desculpas por ter participado de uma caminhada até uma igreja ao lado do então presidente Donald Trump, porque, como afirmou, o gesto foi um erro e deu a impressão de que as Forças Armadas estão envolvidas na política.
Por aqui, os milicos brasileiros fazem questão de afirmar que, sim, estão envolvidos em política. Mas, não querem ser questionados e investigados. Desejam, armados, com armas pagas pelo cidadão, agir como bem entenderem. E quando isso não acontece, ameaçam “endurecer”. O que isso significa?
Vão dar um golpe? Vão fechar o STF e o Congresso?
Eu desde criança aprendi que “cão que ladra não morde”!
Ou agem logo e assumem que são ditadores, abandonando as máscaras democráticas que tanto os incomoda ou enfiem o rabo entre as pernas. Voltem para os quartéis e sigam recebendo altos salários para pintar meio-fio até serem convocados pela sociedade civil a quem devem servir. Nós não nos incomodamos, queremos apenas que se recolham ao seu papel constitucional.
Criminosos, covardes, corruptos e canalhas têm um modus operandi clássico. Veja o caso das máfias, milícias e afins. Usufruem e lucram com a exploração dos mais frágeis e vulneráveis agindo como um corpo uniforme que ataca a tudo e a todos que não fazem parte deste corpo.
Dentro do Palácio do Planalto, o local de trabalho do chefe do executivo, o presidente Jair Bolsonaro, estão quatro generais decidindo os destinos do país. Walter Souza Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno e Eduardo Pazuello e existem outros quase sete mil militares em cargos civis. Não dá para tirar o corpo fora. Há um governo militarizado no Brasil que deve aceitar as regras do jogo democrático ou abandonar o osso.
Governo é uma coisa. Forças Armadas são outra.
Posto isso, resta aos comandantes, que são os mesmos militares que assinaram a nota, a única decisão honrada: pedir baixa e ir para casa! Eles desonraram o Brasil e a farda que vestem.
Em tempo: Em março desse ano, comandantes militares decidiram renunciam em conjunto. “Os comandantes do Exército, general Edson Leal Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior; e da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Bermudez, decidiram deixar os postos após a troca do ministro da Defesa em meio à reforma ministerial promovida pelo presidente Jair Bolsonaro. O general Fernando Azevedo e Silva deixou a Defesa e quem assumiu a pasta foi o também general Braga Netto – que até então era ministro da Casa Civil.”