
De secas no Brasil a altas nos supermercados, o café nunca esteve tão caro.
Os preços globais do café dispararam em 2024, com um aumento médio de 38,8% em relação ao ano anterior. As causas vão além do mercado: secas, geadas e outros eventos climáticos extremos atingiram fortemente as maiores regiões produtoras, incluindo o Brasil e o Vietnã. Enquanto a safra brasileira de café arábica caiu 1,6%, consumidores nos Estados Unidos e na União Europeia pagaram até 6,6% a mais pelo produto.
Uma safra marcada pelo clima extremo no Brasil
O Brasil, líder global na produção de café arábica, enfrentou um ano desafiador. Secas severas e geadas atingiram o estado de Minas Gerais, principal região produtora, forçando revisões sucessivas das estimativas de safra. O que antes era uma previsão otimista de crescimento de 5,5% acabou se tornando uma retração de 1,6%, segundo os dados mais recentes da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
Essa redução na oferta gerou incertezas no mercado e contribuiu para o aumento dos preços. Apenas em dezembro de 2024, a variedade arábica foi vendida 58% mais cara em relação ao ano anterior.
O Vietnã e a Ásia também sentem os efeitos do clima
O Vietnã, maior produtor global de café robusta, registrou uma queda de 20% na safra de 2023/24 devido a um período prolongado de seca. As exportações do país caíram pelo segundo ano consecutivo, com uma redução de 10% em 2024.
Na Indonésia, outro grande produtor asiático, a situação também foi crítica. Chuvas intensas nos meses de abril e maio de 2023 danificaram plantações, resultando em uma queda de 16,5% na produção e uma redução de 23% nas exportações do período.
Com os dois maiores produtores asiáticos em dificuldades, a pressão nos preços globais aumentou ainda mais.
Impacto direto no bolso do consumidor
A alta nos preços do grão não ficou restrita ao mercado internacional. Nos Estados Unidos, o café ficou 6,6% mais caro em supermercados no final de 2024, enquanto na União Europeia o aumento foi de 3,75%.
Essa tendência de alta pode continuar em 2025, caso as condições climáticas adversas persistam. A FAO alerta que as principais regiões produtoras podem enfrentar novas reduções na oferta, o que pressionará ainda mais os preços no mercado global.
Pequenos agricultores no centro da crise
Os pequenos agricultores, responsáveis por 80% da produção mundial de café, estão entre os mais afetados pelos efeitos das mudanças climáticas. Segundo a FAO, os altos preços podem ser uma oportunidade para investir em tecnologias e métodos de cultivo mais resilientes ao clima, mas isso exige apoio financeiro e técnico.
Boubaker Ben-Belhassen, diretor da Divisão de Mercados e Comércio da FAO, destacou que “os pequenos produtores precisam adotar práticas que não só aumentem a produção, mas também ajudem a mitigar os impactos climáticos e a restaurar a biodiversidade perdida”. Iniciativas focadas em resiliência climática e sustentabilidade já estão sendo implementadas em diversos países produtores.
O futuro do café está em risco?
Com os efeitos das mudanças climáticas cada vez mais intensos, o mercado global de café enfrenta uma encruzilhada. A combinação de safras menores, aumento nos custos de transporte e maior demanda global pode levar o grão a patamares de preço ainda maiores nos próximos anos.
Enquanto isso, o desafio para os produtores é equilibrar a produção com práticas sustentáveis, garantindo não apenas a oferta do café, mas também a sobrevivência de milhões de pequenos agricultores ao redor do mundo.
com informações da ONU News