Após decisão dos EUA de sobretaxar aço, indústria brasileira teme perder mercado

Com a decisão dos Estados Unidos de sobretaxar as exportações de aço e alumínio em 25% e 10%, respectivamente, a indústria brasileira teme perder espaço não só no país norte-americano, mas também no próprio mercado interno. Representantes das principais indústrias siderúrgicas, ouvidos pela Agência Brasil, avaliam que os demais países afetados pela medida buscarão destinar suas vendas a outros consumidores, o que resultará numa forte pressão comercial sobre as empresas que produzem e empregam no Brasil.

“São dois problemas a partir dessa decisão. O primeiro é perder o principal mercado de exportação (EUA), e o segundo é que aquele aço russo, coreano, japonês, chinês que vai buscar outros mercados, e a indústria local será alvo (de concorrência)”, avalia Alexandre Lyra, presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, que reúne as principais empresas do setor.

Ao todo, 32% do aço exportado pela indústria brasileira tem como destino os Estados Unidos. Com isso, o país figura como o segundo maior exportador para o mercado norte-americano, com 4,7 milhões de toneladas embarcadas em 2017. Só perde para o Canadá, que exportou 5,8 milhões de toneladas ano passado.

Entre os 10 os maiores exportadores de aço para os EUA, além de Brasil e Canadá, estão outros parceiros tradicionais do país, como Coreia do Sul (3º), México (4º), Japão (7º) e Alemanha (8º). Países como Rússia (5º) e Turquia (6º) também figuram na lista dos principais exportadores do produto. A China, apesar de ser apenas a 11ª exportadora de aço para os EUA, reponde por 50% da produção mundial e tem uma capacidade instalada ainda maior, de mais de 400 milhões de toneladas, o que poderia inundar os mercados de todos os países com o produto.

No caso do alumínio, a decisão dos EUA de sobretaxar o produto em 10% pode frustrar a expectativa da indústria brasileira do crescimento previsto para este ano, após três anos de quedas sucessivas nas vendas para o mercado interno (entre 2015 e 2017). “A gente estava prevendo um crescimento de 5% no mercado doméstico este ano, agora vamos ter que rever isso em função da decisão do governo Trump”, lamenta Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), que representa as empresas do setor.

O presidente da Abal teme exatamente o efeito que a sobretaxa na exportação de alumínio deve ter no deslocamento do mercado doméstico pela indústria de outros países. “A primeira coisa que tem que ser feita é monitorar o que pode acontecer com nossas importações. A indústria brasileira compete bem com os EUA e a Europa. Com a China, é mais complicado, estamos falando de subsídio cruzado, uma realidade completamente diferente”, observa.

A indústria do aço também deve rever o crescimento de 4% nas vendas que estava previsto para este ano no mercado doméstico. “Essa reviravolta [sobretaxação do aço pelos EUA] vai abrir um flanco para a nossa importação em termos de concorrência com outros países e vamos ter que ver como nos proteger”, afirma Alexandre Lyra, do Instituto Aço Brasil.

Reações

Anunciada na quinta-feira (1º) pelo presidente norte-americano Donald Trump, a sobretaxa para as importações de aço e alumínio pelo país deve começar a valer na próxima semana, com a edição de um decreto. Em resposta, o governo brasileiro afirmou que ainda espera chegar a um acordo com os EUA para evitar que o país seja incluído na aplicação das tarifas. Caso isso não seja possível, o Brasil deve questionar a elevação das tarifas em foros globais. “O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses nesse caso concreto”, informou, em nota, o Ministério do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

O principal argumento do governo brasileiro e da indústria é que 80% da exportação de aço do país para os EUA é do produto semiacabado, que chega lá para ser reprocessado pelas indústrias do país e se tornar matéria-prima para o setor automobilístico, militar, de petróleo. “O aço brasileiro não destrói emprego nos EUA e ainda complementa a cadeia produtiva deles”, explica Alexandre Lyra.

A redução das exportações brasileiras de aço pode causar um efeito colateral para indústria de carvão mineral dos EUA. Isso porque o Brasil importa mais de US$ 1 bilhão por ano de carvão norte-americano, que serve de base justamente para a obtenção do aço produzido nacionalmente.

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão norte-americana de impor sobretaxas ao aço e alumínio é “injustificada, ilegal e prejudica o Brasil”. “Se adotadas, as medidas vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em exportações de alumínio. Isso equivale a uma massa salarial de quase R$ 350 milhões e impostos da ordem de R$ 200 milhões”, ressaltou a entidade, em nota.

As indústrias de aço e alumínio empregam mais de 200 mil trabalhadores no país. Em nota, as principais centrais sindicais do país manifestaram repúdio à decisão e afirmam que farão atos e manifestações em diversos locais. “O anúncio da medida causa enorme preocupação de que, se a taxação for confirmada, as exportações brasileiras de aço e alumínio serão afetadas, com diminuição da produção e, consequentemente, dos empregos no Brasil. A intenção é preservar milhares de empregos que serão perdidos na cadeia produtiva do setor e a cota de exportação”, diz um trecho da nota.