à deriva

                                                  Roberto Andrade
O abandono do Ministério da Saúde na definição das estratégias de combate à covid-19 revela que o país segue à deriva sem perspectiva de futuro

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu que o isolamento social é a única estratégia comprovada de combate ao coronavírus. Países que seguiram à risca a recomendação enfrentam a pandemia de cabeça erguida e solidários com a população. Aqui no Brasil, governadores e prefeitos aceitaram a recomendação da OMS e, com medidas mais ou menos efetivas, buscaram garantir o #FiqueemCasa. No Governo Federal houve uma rebeldia capitaneada pelo próprio Presidente da República. Dois Ministros da Saúde foram demitidos por discordarem da postura presidencial, enquanto o Executivo realizava a militarização do ministério.

O resultado desse processo é o abandono do combate ao coronavírus pelo Governo Federal. Os militares agora ocupam todos os cargos de comando do ministério e, de forma clara, deixaram nas mãos de governadores e prefeitos definir como acontece o combate e em quais níveis de isolamento. O Ministério da Saúde, simplesmente, retirou-se do debate enquanto o presidente sinaliza de forma clara que deseja o fim do isolamento e a volta à “normalidade”.

Uma estratégia de afastamento para tentar “tirar do colo” do presidente as mortes pela pandemia.

Isso aconteceu em meio à crise provocada pela saída do ministro da Justiça e à acusação de que o presidente buscou aparelhar a Polícia Federal para proteger a própria família e os amigos. E na esteira do vídeo que exibe as entranhas do pensamento de ministros e do próprio presidente.

O Brasil já é o segundo em casos mundiais de casos e ultrapassou o total de 22 mil mortes. Curioso é que os países com mais casos são exatamente os dois em que os presidentes não assumiram a liderança no combate ao coronavírus.

O problema de abandonar o combate aos governos estaduais e municipais é que estas instâncias de poder não detém os recursos necessários ao tratamento efetivo dos doentes. Há a necessidade efetiva de um reforço no Sistema Único de Saúde (SUS) o que depende do Ministério da Saúde. Mais médicos, mas medicamentos, mais equipamentos estão sendo buscados pelos próprios governadores e prefeitos, no momento em que o Ministério da Saúde poderia ter centralizado as compras e distribuição dos recursos em um pacto de união com os demais governantes. Mas isso não ocorreu nem ocorre.

A falta de empatia do presidente com a morte de mais de 22 mil brasileiros é doentia. Em nenhum momento ele visitou um hospital ou solidarizou-se com as famílias dos mortos. Aqui e ali ele fala que sente ao mesmo tempo em que diz “E daí?” para os milhares de cadáveres. Esse comportamento por si só já estabelece a prova de que não há como o presidente se livrar desses milhares de mortos. São dele por omissão clara e manifesta.

Pressionados pelo descaso federal, os governadores e prefeitos vão flexibilizando as medidas em plena subida da curva de contágio e mortes. Assumindo para si a culpa pelas futuras mortes.

De tudo isso, fica evidente que o Brasil está a deriva em todas as áreas essenciais. Na Educação, Saúde, Meio Ambiente, Justiça, Direitos do cidadão, Economia não há nenhuma medida efetiva que mostre que o país segue em uma direção que nos trará um futuro melhor.