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Os males do alcoolismo: uma reflexão necessária no Dia de Combate ao Alcoolismo.
O dia 20 de fevereiro é marcado como o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, uma data que serve como um alerta para os impactos devastadores dessa doença, não apenas na vida dos indivíduos, mas também nas famílias e na sociedade como um todo. Embora o consumo moderado de álcool seja culturalmente aceito em muitas partes do mundo, o alcoolismo é uma condição séria que afeta milhões de pessoas, levando a consequências físicas, emocionais e sociais profundas.
Desde 1967 , o vício em bebidas alcoólicas é considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) , que recomenda que as autoridades lidem com o assunto como uma questão de saúde pública. Apesar disso, o álcool continua sendo amplamente consumido e socialmente incentivado, especialmente em contextos recreativos. Esse cenário exige uma mudança urgente na forma como encaramos essa substância e seus impactos.
O impacto global e nacional do consumo de álcool
De acordo com o estudo Carga Global de Doenças , em 2021, o consumo de álcool resultou em 1,8 milhão de mortes em todo o mundo . No Brasil, aproximadamente 21.315 óbitos em 2022 foram diretamente atribuídos ao uso de bebidas alcoólicas, conforme dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).
Além disso, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019 revelou que 63% dos adolescentes entre 13 e 17 anos já consumiram álcool , com 35% tendo experimentado antes dos 13 anos . Esses números preocupantes destacam a necessidade de políticas públicas mais eficazes para prevenir o consumo precoce e educar jovens sobre os riscos associados ao álcool.
O alcoolismo: uma doença silenciosa
O alcoolismo é classificado pela OMS como uma doença crônica e progressiva , caracterizada pela dependência física e psicológica ao álcool. No início, o consumo pode parecer inofensivo, mas com o tempo, a tolerância aumenta e o uso passa a ser compulsivo. Para muitos, o álcool se torna uma forma de lidar com o estresse, a ansiedade ou traumas, criando um ciclo vicioso difícil de quebrar.
No entanto, os danos causados pelo alcoolismo vão muito além do simples hábito de beber. É uma condição que afeta todos os aspectos da vida, desde a saúde física até as relações interpessoais e o desempenho profissional.
Impactos na saúde física e mental
A curto prazo, o álcool afeta a coordenação motora, a capacidade de julgamento e o controle emocional. Esses efeitos imediatos podem levar a comportamentos de risco, como dirigir sob influência ou tomar decisões impulsivas. No entanto, os danos a longo prazo são ainda mais alarmantes.
De acordo com a neurocientista Emily Pires, o consumo excessivo de álcool libera dopamina, gerando uma sensação inicial de prazer. Contudo, essa mesma recompensa química reforça o comportamento de consumo, levando à dependência. “Quando o consumo é frequente, ocorrem alterações estruturais e funcionais no cérebro, prejudicando a memória, as tomadas de decisão e aumentando o risco de transtornos como ansiedade e depressão”, explica a especialista.
Além disso, o álcool está associado a doenças graves, como cirrose hepática, câncer, hipertensão e problemas cardíacos. Segundo dados da Fiocruz, o consumo de álcool chega a causar cerca de 12 mortes por hora no Brasil , sendo a maioria decorrente de doenças cardiovasculares, acidentes e violência. Esse problema gera um custo anual de R$ 18 bilhões , dos quais mais de R$ 1 bilhão são destinados a hospitalizações e procedimentos ambulatoriais no Sistema Único de Saúde (SUS).
Em nível global, o último relatório da OMS, de 2023, revela que o álcool é responsável por cerca de 2,6 milhões de mortes anualmente , sendo que os homens representam quase 75% desse total . Esses números refletem a gravidade do problema e a necessidade de políticas públicas mais eficazes.
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Alcoolismo: Onde Encontrar Ajuda na Grande Vitória
Reconhecer o alcoolismo é o primeiro passo para a recuperação. Na Grande Vitória, diversas instituições e grupos de apoio, como o Alcoólicos Anônimos (AA), oferecem suporte fundamental para aqueles que desejam retomar um estilo de vida saudável. Confira os principais locais de ajuda na região.
Centros de Atenção Psicossocial
Vitória
Em Vitória, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) funciona 24 horas por dia, oferecendo atendimento integral a dependentes químicos. A equipe multiprofissional inclui psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas ocupacionais. Os serviços disponíveis incluem:
Atendimentos individuais
Grupos terapêuticos
Oficinas terapêuticas
Acompanhamento familiar
Práticas integrativas, como meditação e ioga
Endereço: Rua Álvaro Sarlo, 181, Ilha de Santa Maria.
Vila Velha
Vila Velha conta com o Centro de Atendimento Psicossocial de Vila Velha Álcool e Outras Drogas (CAPS AD), que acolhe pessoas acima de 18 anos com problemas de dependência. Além disso, o CAPS IJ oferece suporte a crianças com transtornos mentais graves. A equipe é composta por psicólogos, psiquiatras e enfermeiros, proporcionando um atendimento abrangente.
Endereço: CAPS AD II, Centro de Vila Velha.
Serra
Na Serra, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS AD), localizado em Laranjeiras, oferece serviços como:
Atendimento multidisciplinar
Dispensação de medicamentos
Oficinas de música e arte
O CAPS se dedica à reinserção social dos pacientes e fortalece os laços familiares e comunitários. Para atendimento ambulatorial, o Ambulatório Municipal de Especialidade (AMES) também disponibiliza médicos psiquiatras.
Horário de funcionamento: Segunda a sexta, das 7h às 17h.
Cariacica
Em Cariacica, o Programa Municipal contra o Álcool e Outras Drogas (Promad) é oferecido na Unidade Básica de Saúde de Jardim América. Os munícipes podem se apresentar na UBS, onde passarão por acolhimento prévio e acompanhamento.
Endereço: Rua Nicarágua, s/n.
Telefone: 3354-7027 / 7050 / 7051.
Grupos de Apoio: Alcoólicos Anônimos
Além dos centros de saúde, os Alcoólicos Anônimos (AA) oferecem um espaço acolhedor para aqueles que buscam apoio na luta contra o alcoolismo. Os grupos reúnem pessoas que compartilham experiências e estratégias para manter a sobriedade.
Endereços do Alcoólicos Anônimos na Grande Vitória:
Vitória:
Rua Pedro Nolasco, 50, Centro.
Reuniões: Segundas e quintas, às 19h.
Vila Velha:
Rua Maria da Penha, 15, Praia da Costa.
Reuniões: Terças e sextas, às 20h.
Serra:
Rua das Flores, 10, Laranjeiras.
Reuniões: Quartas, às 18h.
Cariacica:
Rua São Pedro, 25, Campo Grande.
Reuniões: Sábados, às 16h.
Conclusão
Se você ou alguém que você conhece está enfrentando problemas com o alcoolismo, não hesite em buscar ajuda. A Grande Vitória oferece diversas opções de apoio, desde centros de atenção psicossocial até grupos de Alcoólicos Anônimos, todos prontos para auxiliar na jornada rumo à recuperação.
Conexões com outras doenças e comportamentos de risco
A diretora do Departamento de Ações Estratégicas em Saúde (Daent) destacou que o álcool não está ligado apenas a doenças crônicas, como câncer e doenças hepáticas, mas também a infecções como tuberculose e HIV. “O álcool interfere nas práticas de prevenção e pode favorecer a prática de sexo desprotegido, impactando negativamente na adesão e resposta ao tratamento”, explicou.
Além disso, os impactos do consumo de álcool frequentemente se estendem à segurança viária. A OMS relatou em 2019 que dirigir sob a influência de álcool foi responsável por 27% de todos os acidentes rodoviários . No Brasil, dados do Viva Inquérito de 2017 mostram que 13,1% dos atendimentos em serviços de urgência e emergência decorrentes de acidentes de transporte envolveram condutores que haviam ingerido bebidas alcoólicas .
17anos da Lei Seca no Brasil
O Brasil celebra 17 anos da Lei Seca este ano. Apesar dos resultados significativos, eles ainda são insuficientes. Desde sua implementação em 2008 , a legislação reduziu em 22% o número de acidentes de trânsito fatais causados por embriaguez ao volante . Em 2010, o país registrou 13.911 óbitos relacionados a motoristas embriagados, enquanto em 2022 esse número caiu para 10.746 , segundo dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). Apesar da queda, os homens continuam sendo as principais vítimas desses acidentes.
A Lei Seca foi instituída com o objetivo de estabelecer uma taxa zero de alcoolemia no trânsito e impor penalidades mais severas para quem dirigir alcoolizado. Atualmente, a violação da legislação acarreta multa de R$ 2.934,70 , além da suspensão da carteira de habilitação por 12 meses . Caso o bafômetro registre a presença de álcool acima de 0,34 mg/l , a conduta é caracterizada como crime de trânsito , sujeita a processos judiciais e penas mais graves.
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No entanto, a aplicação da lei ainda enfrenta desafios. Um exemplo emblemático é o caso de Rose Antonelli , que perdeu o marido Edson Antonelli em 2017, no Lago Norte, em Brasília. Ele estava pedalando na ciclofaixa quando foi atingido por um carro conduzido por uma jovem de 20 anos que dirigia sob o efeito de álcool. A vítima foi arremessada a uma distância de 40 metros e não resistiu aos ferimentos. A motorista passou apenas um dia na prisão e foi liberada após pagar fiança de R$ 5 mil , respondendo ao processo em liberdade.
Para Rose, a sensação de impunidade persiste. “A gente vive com essa sensação de injustiça, as mortes no trânsito continuam, todos os dias têm pessoas bêbadas dirigindo e causando acidentes graves. O medo das pessoas que bebem e dirigem é só de serem pegas pela blitz e pagar multa”, desabafou.
O alto custo econômico do álcool
O impacto econômico do consumo de álcool também é alarmante. Em países de renda média ou baixa, o custo econômico associado ao álcool é estimado em mais de 1% do PIB . No Brasil, o SUS gastou mais de R$ 1,7 bilhão em 2018 tratando apenas de cânceres relacionados ao álcool. Projeções indicam que esse valor poderá superar R$ 4,1 bilhões anuais até 2040 , impactando diretamente a saúde pública e a produtividade do país.
Um retrato do consumo de álcool no Brasil
Brasília, a capital federal, ocupa o segundo lugar no ranking das capitais brasileiras onde mais se consome álcool, ficando atrás apenas de Salvador, na Bahia. Os dados são do Ministério da Saúde e refletem uma preocupante tendência de aumento no consumo.
No Distrito Federal, os consumidores gastaram mais de R$ 650 milhões em bebidas alcoólicas em 2024 , segundo dados do IPC Maps, que estuda o perfil de consumidores. Em comparação com 2023, quando o valor foi de R$ 511,7 milhões , houve um aumento de 27% nos gastos com álcool:
- 2023 : R$ 511.707.000
- 2024 : R$ 650.046.432 (+27%)
Para Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, esses números refletem a necessidade de repensar a cultura do álcool. “Ela é socialmente aceita e culturalmente incentivada para uso recreativo. É um gasto que poderia ser evitado. As pessoas têm uma percepção pequena de risco da bebida, até gerar um vício, violência ou acidente de carro”, afirma.
Consequências sociais e econômicas
O alcoolismo não afeta apenas a saúde individual; ele tem um impacto devastador na sociedade. Famílias são desestruturadas, crianças crescem em ambientes instáveis e o mercado de trabalho sofre com a queda na produtividade e o aumento de absenteísmo. Além disso, os custos relacionados a acidentes de trânsito, violência doméstica e tratamentos médicos colocam uma pressão significativa sobre os recursos públicos.
Para especialistas da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, a prevenção é fundamental. Metodologias educativas podem ser introduzidas desde a infância, ensinando crianças e adolescentes sobre os riscos do consumo de álcool. Programas como os Alcoólicos Anônimos têm sido uma importante rede de apoio para aqueles que enfrentam a dependência, mostrando que o caminho para a recuperação não precisa ser trilhado sozinho.
A neurocientista Emily Pires destaca ainda avanços no tratamento do alcoolismo, como o uso de neurofeedback – uma técnica que regula a atividade cerebral por meio de estímulos elétricos. “Essa abordagem fortalece a motivação e a disciplina do paciente, tornando-o mais engajado na recuperação. Quando combinada com acompanhamento médico, psicológico e atividades físicas, ela pode ser uma força poderosa na superação da dependência”, afirma.
Um chamado à reflexão
No Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, é crucial lembrar que essa doença não discrimina idade, classe social ou gênero. Ela pode atingir qualquer pessoa, independentemente de suas circunstâncias. Por isso, devemos nos unir para promover uma cultura de responsabilidade e cuidado, incentivando o diálogo aberto sobre os malefícios do álcool e oferecendo suporte aos que precisam.
Se você conhece alguém que luta contra o alcoolismo, lembre-se de que o apoio e a compreensão são ferramentas poderosas. Encoraje essa pessoa a buscar ajuda profissional, pois o caminho para a recuperação, embora desafiador, é possível com o tratamento adequado.
Neste 20 de fevereiro, vamos refletir sobre nossas escolhas e atitudes em relação ao álcool. Afinal, a saúde e o bem-estar de todos estão em jogo. Juntos, podemos construir uma sociedade mais consciente e solidária, onde o alcoolismo não tenha espaço para prosperar.