BR-101 no ES tem o trecho de estrada mais perigoso do Brasil

Um trecho de 10 km da BR-101 no município de Guarapari (ES) foi considerado o mais perigoso do país pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) no estudo “Acidentes Rodoviários e a Infraestrutura”, divulgado nesta segunda (04). No levantamento, a Confederação avaliou 4.571 trechos de até 10 km e adotou o critério de maior número de mortes em acidentes registrados em 2017, para chegar à lista dos cem trechos mais perigosos do Brasil.

O segmento que está no topo do ranking localiza-se entre os quilômetros 343,1 e 353,1 da BR-101, onde ocorreram 21 mortes e 14 acidentes. Uma das causas desse resultado está no fato de que o trecho foi palco, no ano passado, de um acidente que envolveu duas ambulâncias, um ônibus e uma carreta – todas as mortes foram registradas pela polícia nessa ocorrência.

A BR-101 aparece também no segundo lugar, dessa vez, com um trecho no município de Abreu e Lima (PE), onde ocorreram 15 mortes e 142 acidentes. Em seguida, está a BR-040, localizada no município de Luziânia (GO), que registrou 15 mortes e 103 acidentes. Em quarto lugar, aparece um trecho da BR-381 em Itatiaiuçu (MG), com 14 mortes e 95 acidentes. Já em quinto, encontra-se a BR-116 em Guarulhos (SP), com 13 mortes e 252 acidentes.

O novo trabalho da CNT relaciona as características da infraestrutura viária apresentadas na Pesquisa CNT de Rodovias 2017 (estado geral, sinalização, pavimento e geometria da via) com os acidentes com vítimas registrados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) em rodovias federais, no ano passado.

Ao analisar as condições viárias, o estudo constata que, quando a avaliação do estado geral é negativa (ou seja, regular, ruim ou péssima), a gravidade dos acidentes nos trechos considerados mais perigosos é 2,4 vezes maior que no restante das rodovias brasileiras.

Análise por variável

Quando o estado do pavimento é avaliado como regular, ruim ou péssimo, a gravidade dos acidentes nos cem trechos mais perigosos é 39,2% maior em relação aos demais trechos rodoviários. Quando a variável analisada é a sinalização, a gravidade é 77,1% maior nessa mesma comparação. Em relação à geometria da via, os acidentes são 59,8% mais graves nos trechos mais perigosos em locais com avaliação negativa.

“Os dados revelam que a probabilidade de ocorrência de morte em uma rodovia é muito maior quando ela recebe classificação negativa pela Pesquisa CNT de Rodovias nas variáveis sinalização, pavimento e geometria da via. Isso mostra a necessidade de investimento, entre outros aspectos, em dispositivos de proteção, placas, sonorização, faixas adicionais, pavimento e defensas. Somente por meio de infraestrutura de qualidade, os índices de mortes nas rodovias serão reduzidos”, avalia o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.

Sinalização ruim

O estudo da CNT revela que sinalização péssima em pavimentos com ótima qualidade gera 18,9 mortes a cada 100 acidentes e que a gravidade dos acidentes aumenta significativamente quando as condições da sinalização da via são piores.

Pavimento em boas condições e sinalização com problemas são uma mistura fatal nas rodovias federais brasileiras.

O trabalho da Confederação aponta que o índice de óbitos a cada 100 acidentes é maior quando o pavimento tem melhores condições: são 11,2 registros em trechos com pavimento classificado ótimo, contra 7,7 mortes em trechos com classificação péssimo.

Ainda segundo o estudo, em vias com boa pavimentação os veículos atingem uma maior velocidade e consequentemente há um maior risco de envolvimento em acidentes. Porém, este risco, de se envolver em um acidente, poderia ser reduzindo desde que as considerações de sinalização estivessem adequadas e houvesse maior fiscalização nestes pontos.

Quando as informações sobre a sinalização são incluídas no cruzamento de dados, o resultado chama mais a atenção: nos trechos em que o pavimento foi considerado ótimo, mas a sinalização foi classificada como péssima, foram registradas 18,9 mortes a cada 100 acidentes. O número é 2,2 vezes maior do que o índice observado quando pavimento e sinalização tiveram classificação ótimo, que é de 8,4 mortes a cada 100 acidentes.

“Os dados indicam que o índice de mortes é maior em rodovias cujo pavimento está bem classificado, porque os motoristas acabam alcançando maior velocidade. Além disso, as rodovias não são bem fiscalizadas e sinalizadas, o que também contribui para o aumento do número de óbitos. Em contrapartida, a frequência de acidentes é maior em rodovias cuja infraestrutura apresenta problemas, devido a características como ausência de sinalização, falta de controladores de velocidade, más condições do pavimento e ausência de acostamento”, afirma o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista.

Ainda segundo o trabalho da CNT, nos trechos com controladores de velocidade, foi registrado o índice de 9,2 mortes a cada 100 acidentes em pavimento ótimo, enquanto nos trechos sem presença de controladores, o índice foi de 12,6 (37% maior). As más condições da faixa central das pistas também exercem influência direta na gravidade dos acidentes. O índice observado em trechos com pavimento classificado como ótimo, onde a pintura da faixa central era visível, foi de 11,3 mortes por 100 acidentes, enquanto nos trechos com inexistência de pintura de faixa, o índice foi de 15,9 (40,7% maior).

Outro dado do estudo é que a gravidade dos acidentes onde o acostamento das rodovias está destruído, não podendo ser utilizado em uma situação de emergência, (16,3 óbitos a cada 100 acidentes) é 45,5% maior quando comparada aos locais onde ele se encontra perfeito (11,2). A Confederação traz, ainda, a informação de que trechos com a superfície do pavimento destruída possuem índices muito baixos de acidentes e de mortes, o que pode ser explicado pela dificuldade de circulação e de desenvolvimento da velocidade.