Canto das baleias jubarte revela padrões linguísticos semelhantes aos humanos, aponta estudo

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Pesquisa publicada na Science mostra que as baleias organizam seus sons de forma estruturada, seguindo padrões culturais e probabilísticos comparáveis à linguagem humana, desafiando noções sobre a exclusividade da comunicação humana.

Um estudo internacional publicado na renomada revista Science revelou que o canto das baleias jubarte apresenta uma estrutura surpreendentemente similar à linguagem humana. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Hebraica de Israel e das universidades de St. Andrews e Edimburgo, no Reino Unido, sugere que esses mamíferos marinhos organizam seus sons seguindo padrões complexos, até então observados apenas em seres humanos.

Os pesquisadores utilizaram um algoritmo que aplica princípios semelhantes aos usados por crianças para aprender a linguagem. O sistema analisou mais de 30 horas de cantos de baleias jubarte coletados na Nova Caledônia, no sudoeste do Oceano Pacífico. O algoritmo identificou padrões de sons que ocorrem juntos com maior frequência, indicando “palavras” ou segmentos específicos. Quando esses elementos foram comparados, surgiu um padrão estatístico que só havia sido documentado em humanos.

“Essas descobertas desafiam suposições antigas sobre a singularidade da linguagem humana, revelando profundas semelhanças entre espécies evolutivamente distantes”, afirmou Simon Kirby, professor da Universidade de Edimburgo e coautor do estudo.

Cultura e aprendizado

A pesquisa também destacou que o canto das baleias jubarte é transmitido culturalmente, assim como a linguagem humana. Isso significa que esses animais aprendem seus sistemas de comunicação uns com os outros, reforçando a ideia de que a evolução cultural desempenha um papel crucial no desenvolvimento de comportamentos complexos.

Inbal Arnon, professor da Universidade Hebraica e um dos autores do estudo, explicou que as baleias podem aprender seus cantos rastreando probabilidades de transição entre elementos sonoros, de forma semelhante ao que os bebês humanos fazem ao aprender a falar. “Isso levanta a possibilidade intrigante de que as baleias jubarte, como os bebês humanos, usam quedas nessas probabilidades como uma deixa para segmentar o canto”, disse Arnon.

Semelhanças adicionais

Outro estudo recente, também publicado na Science, reforça as descobertas ao apontar que os elementos mais usados nas canções das baleias tendem a ser mais curtos, assim como as palavras mais comuns na linguagem humana. Mason Youngblood, pesquisador da Stony Brook University e autor do estudo, destacou que “sons mais longos geralmente consistem em elementos mais curtos, o que os torna menos trabalhosos de produzir”.

Ellen Garland, bióloga marinha da Universidade de St. Andrews e coautora da pesquisa, ressaltou que a descoberta de uma estrutura oculta semelhante à linguagem no canto das baleias foi inesperada. “Isso sugere fortemente que esse comportamento cultural contém informações cruciais sobre a evolução da comunicação complexa no reino animal”, afirmou.

Implicações e futuro

As descobertas abrem novas perspectivas para o estudo da evolução da comunicação em espécies não humanas e questionam a noção de que a linguagem é uma característica exclusivamente humana. Além disso, destacam a importância da conservação das baleias jubarte, cujas populações ainda se recuperam de séculos de caça comercial.


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