
Em um mundo assolado por incertezas climáticas e conflitos, o “Cofre do Fim do Mundo”, localizado no Ártico, acaba de receber um reforço vital para a segurança alimentar global. Mais de 14 mil amostras de sementes de diversas partes do planeta foram depositadas no Svalbard Global Seed Vault, consolidando sua missão de salvaguardar a biodiversidade agrícola para as futuras gerações.
O depósito, realizado nesta terça, 25 de fevereiro, incluiu variedades preciosas de países como Brasil, Sudão, Malawi e Filipinas, demonstrando a importância do cofre como um escudo global contra a perda de diversidade de culturas e potenciais crises alimentares. As sementes recém-chegadas representam um backup essencial para os bancos genéticos de todo o mundo, protegendo o patrimônio genético de plantas contra desastres que vão desde guerras nucleares a eventos climáticos extremos.
O Brasil depositou uma vasta coleção de mais de 3.000 variedades de arroz, feijão e milho.
Svalbard
Conhecido como o “Cofre do Fim do Mundo”, o Svalbard Global Seed Vault, situado no interior de uma montanha na Noruega, opera como uma arca de Noé da biodiversidade. Desde sua inauguração em 2008, o cofre tem sido um refúgio seguro para o código genético de milhares de espécies de plantas, apoiado pela organização internacional Crop Trust. Nesta semana, o cofre celebrou mais um marco em sua história com o depósito de 14.022 novas amostras de sementes, oriundas de 21 bancos de genes ao redor do globo.
Além disso, o depósito deste ano destaca a urgência da conservação em face dos desafios contemporâneos. Entre as novas amostras, ganham destaque 15 espécies do Sudão, incluindo diversas variedades de sorgo. Em um país marcado por conflitos e insegurança alimentar, como o Sudão, essas sementes representam mais do que apenas material genético; elas simbolizam esperança e resiliência. O sorgo, cultivado há milênios na região, é crucial para a segurança alimentar local devido à sua resistência à seca, tornando-o fundamental para a adaptação às mudanças climáticas.
“No Sudão, onde o conflito deslocou mais de oito milhões de pessoas e interrompeu a agricultura, essas sementes representam esperança”, declarou Ali Babikar, diretor do Centro de Pesquisa e Conservação de Recursos Genéticos de Plantas Agrícolas do Sudão (APGRC). Adicionalmente, Babikar enfatizou que “ao salvaguardar essa diversidade em Svalbard, estamos preservando opções para um futuro resiliente e com segurança alimentar, independentemente dos desafios que enfrentamos.”
Brasil depositou arroz, feijão e milho
O Brasil, país que sediará a COP30 em Belém, também marcou presença no depósito, contribuindo com uma vasta coleção de mais de 3.000 variedades de arroz, feijão e milho. Similarmente, o Malawi depositou os chamados “feijões de veludo”, importantes para a agricultura sustentável e a medicina tradicional local.
Nolipher Mponya, cientista de pesquisa agrícola do governo do Malawi, ressaltou a importância da diversidade de culturas para a segurança alimentar global. “A diversidade de culturas reduz o risco de crises alimentares em níveis local, regional, sub-regional e global”, explicou Mponya. Consequentemente, a conservação dessa diversidade protege o futuro dos alimentos, garante genes para melhoria de culturas e mantém benefícios econômicos e de saúde.
As Filipinas, outro país a contribuir para o cofre, exemplificam a combinação de alta diversidade genética e vulnerabilidade a crises. O país asiático depositou sementes de berinjela, feijão-frade, feijão-lima e sorgo. Hidelisa De Chavez, da Universidade das Filipinas, alerta para a rápida perda de diversidade genética e a importância da conservação e acessibilidade, enfatizando que a diversidade de culturas é a base da agricultura mundial.
Resiliência
Stefan Schmitz, diretor executivo do Crop Trust, resume a essência do Svalbard Global Seed Vault: “As sementes depositadas esta semana representam não apenas a biodiversidade, mas também o conhecimento, a cultura e a resiliência das comunidades que as administram”. Portanto, proteger essa diversidade para as gerações futuras é um imperativo global.