
Pesquisadores da Ufes desenvolvem técnica inovadora que analisa sinais vocais para identificar a doença em estágios iniciais, antes mesmo do aparecimento de sintomas motores.
A doença de Parkinson afeta milhões de pessoas no mundo, e seu diagnóstico precoce pode ser crucial para retardar a progressão dos sintomas. Agora, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão desenvolvendo uma técnica revolucionária que utiliza inteligência artificial (IA) para detectar a doença a partir da voz do paciente. O método, ainda em fase de aprimoramento, promete ser uma ferramenta acessível e não invasiva para auxiliar médicos e pacientes.
Com base em um banco de dados turco, o sistema combina algoritmos de aprendizado de máquina e otimização metaheurística para identificar padrões vocais associados ao Parkinson. Os resultados são promissores e superam estudos recentes na área, abrindo caminho para um diagnóstico mais rápido e preciso.
A voz como indicador precoce do Parkinson
A doença de Parkinson é tradicionalmente diagnosticada a partir de sintomas motores, como tremores e rigidez muscular. No entanto, em cerca de 90% dos casos, as alterações na voz surgem antes desses sinais. “Pacientes podem apresentar voz mais fraca, monotonia na fala ou dificuldade de articulação anos antes dos tremores aparecerem”, explica Peter Garcez, autor do estudo e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Ufes.
A pesquisa analisou 756 amostras de voz, extraindo 752 atributos diferentes. Usando IA, o sistema conseguiu filtrar os parâmetros mais relevantes para o diagnóstico, reduzindo custos computacionais e aumentando a eficiência. “Identificamos quais características vocais são mais afetadas pela doença, o que pode ajudar no desenvolvimento de aplicativos ou dispositivos de triagem remota”, diz Garcez.
Próximos passos: banco de dados brasileiro e testes em humanos
Atualmente, o estudo utiliza um banco de dados turco, mas o próximo objetivo é criar um repositório com vozes de falantes nativos de português. “Queremos entender se há particularidades da nossa língua que influenciam no diagnóstico”, afirma o pesquisador.
A fase de testes em humanos deve começar durante o doutorado de Garcez, após aprovação do Comitê de Ética da Ufes. Uma parceria com uma neurologista do ambulatório da universidade permitirá o acesso a pacientes com Parkinson, validando a eficácia do método em condições reais.
Impacto global e esperança para pacientes
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4 milhões de pessoas no mundo vivem com Parkinson. No Brasil, estima-se 200 mil casos. A doença ainda não tem cura, mas o diagnóstico precoce pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
“Imagine um aplicativo que ajude a monitorar a voz do usuário ao longo do tempo, alertando sobre possíveis alterações. Isso pode acelerar a busca por tratamento”, destaca Garcez. A pesquisa, financiada pela Capes e vinculada ao LabCisne da Ufes, representa um avanço não só para a medicina, mas também para a tecnologia aplicada à saúde.
com informações da Ascom/UFES