Flagrante delito

                                                  Roberto Andrade

Só pode ser a certeza da impunidade e de que, por aqui em terras tupiniquins, os poderosos podem tudo, sem quaisquer riscos de punição, tal a quantidade de provas que o grupo bolsonarista tem produzido contra si nos últimos tempos.

Comecemos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Na famigerada reunião de 22 de abril, ele disse que o governo deveria aproveitar o foco da Imprensa nos mortos por coronavírus para “passar a boiada” da desregulamentação das normas de controle ambiental. Aí, assina uma portaria que, dizem os ambientalistas, favorece o desmatamento na Mata Atlântica, que por sua vez, registra um aumento na destruição em 27%. Aí recebe o apoio dos grupos ruralistas, tira fotos com eles, junto com a ministra da Agricultura, cheio de sorrisos. Todos juntos e misturados. Precisa investigar? Pergunta ao zé na esquina e ele dirá: “tá na cara”! Temos um ministro do Meio Ambiente que defende os interesses dos ruralistas e desmatadores, em nome de uma economia do século passado. Por isso, enfraquece os órgãos de fiscalização e controle e apoio “fake operações” de proteção da Amazônia, coordenada pelo vice-presidente milico.

Daí temos o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Comete descaradamente um crime ao falar em prisão, sem processo e julgamento, de membros do Poder Judiciário, a quem ofende sem qualquer pudor. Uma fala claramente golpista e ditatorial, tão ao gosto dos seguidores do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. Isso depois de atacar nações amigas, profissionais da Educação, estar deixando milhões de estudantes em suspense por conta do Enem, e não ter apresentado em nenhum momento um plano para a Educação Brasileira. Um nada! Disse o que disse claramente. O zé na esquina, seguindo a lógica do próprio ministro (sem processo e julgamento) já o teria colocado em cana há muito tempo por crime contra a Educação e por adorar citações nazistas (apesar de dizer que a família foi perseguida por Hitler). Um caso a ser estudado.

Daí temos o núcleo militar do Planalto e suas notas ameaçadoras e de afronta à Constituição. Todos devem ser investigados sobre suas reais intenções. Militar em função política e, portanto, civil, não deve usar as Forças Armadas como argumento em nenhuma linha. Isso configura crime, por si só. Se “estou” civil não tenho patente militar no exercício do cargo. Se exerço cargo militar não posso ter atuação política. “Misturar as tintas” é, no mínimo, acidente de trânsito e, no máximo, crime militar ou civil, mas sempre crime. Esses senhores parecem não entender essa simples verdade constitucional e vão enfiando os pés pelas mãos sem perceber que vivemos o século XXI. Para trazê-los à realidade existe o Congresso e o STF. Cabe a estes dar aquele puxão de orelha institucional e colocá-los em seus devidos lugares. Caso contrário, volta à caserna ou…

Tresloucados, sem noção, gente errada no lugar errado, esse governo tem de montão. Gente que apequena o Brasil e os brasileiros perante nós mesmos e o mundo. Entretanto, o mais sem noção de todos é o próprio presidente Bolsonaro. Ouviu o que disseram seus principais auxiliares sem contestar e produziu ele próprio algumas pérolas de autoritarismo incrustadas em sonoros palavrões. Provou por “A+B” tudo o que disse o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. Mudou a Chefia-Geral da Polícia Federal e os superintendentes do Rio de Janeiro e Paraná e assim comprovou que havia interesse em ter contato mais próximo com essas superintendências para evitar que f*o*d*a*m a família e os amigos suspeitos de envolvimento em ações pouco republicanas.

Diz a Lei que ninguém é obrigado a produzir prova contra si. Mas esse preceito jurídico parece ter sido abandonado por membros do Executivo brasileiro. A todo momento eles dizem, publicam nas redes sociais ou são flagrados em ações que provam seus interesses escusos e objetivos maldosos, como revela aquela anedota do ladrão pego com o porco nas costas e que pergunta ao policial: porco? Que porco? Ou como diz o zé da esquina: “estão com o fiofó exposto em flagrante delito”.