
Como a Inteligência Artificial vai transformar a economia e os empregos em países emergentes.
Nos próximos cinco anos, a inteligência artificial (IA) deve causar uma verdadeira revolução no mercado de trabalho global, com impacto especialmente forte nos países emergentes. A previsão foi destacada por Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma palestra recente em Al Ula, na Arábia Saudita. Segundo ela, a IA tem potencial para aumentar desigualdades e pressionar economias que já enfrentam desafios estruturais e fiscais.
O fim do comércio como motor principal de crescimento
Historicamente, os mercados emergentes se beneficiaram de ciclos de crescimento impulsionados pelo comércio global. Nas décadas de 1990 e 2000, o fluxo internacional de mercadorias e serviços crescia a taxas superiores ao próprio PIB mundial. Esse cenário mudou. Hoje, comércio e PIB global avançam no mesmo ritmo, o que torna mais difícil para economias emergentes utilizarem exportações como alavanca de desenvolvimento.
Nesse contexto, a tecnologia — em especial a IA — surge como fator determinante para a competitividade e o crescimento futuro. No entanto, segundo Georgieva, os riscos são evidentes: países que não se adaptarem rapidamente poderão ficar ainda mais atrás, com impactos negativos diretos sobre o emprego e a inclusão social.
Tecnologia, desigualdade e a urgência de adaptação
IA e a ampliação das desigualdades nos países pobres
Um estudo recente do FMI apontou que a IA afetará diretamente 26% dos empregos em países de baixa renda. Nessas economias, onde grande parte da força de trabalho ocupa funções manuais e operacionais, a automação e as soluções de IA poderão substituir trabalhadores em larga escala. O resultado pode ser uma combinação perigosa de desemprego, queda salarial e aumento da pobreza.
A desigualdade social, que já é uma realidade nos mercados emergentes, tende a se agravar se políticas públicas de proteção social e de qualificação profissional não forem implementadas. Muitos desses países ainda carecem de infraestrutura digital básica, o que dificulta a adoção de tecnologias de ponta de forma inclusiva.
Três desafios centrais para economias emergentes
Para lidar com essa nova era tecnológica, Kristalina Georgieva aponta três desafios críticos que governos e empresas em mercados emergentes precisam enfrentar:
1. Inflação e instabilidade cambial
A inflação deve se estabilizar mais rapidamente nas economias avançadas, mas nos emergentes, ela tende a persistir por mais tempo. Um dólar mais forte pode acelerar a fuga de capitais, deixando esses países com ainda menos recursos para investir em tecnologia e inovação.
2. Endividamento e restrições fiscais
Muitos mercados emergentes enfrentam altos índices de endividamento externo, orçamentos apertados e pressões crescentes sobre gastos sociais. Esse tripé de vulnerabilidades reduz a capacidade de investimento público em modernização tecnológica e qualificação da força de trabalho.
3. Reformas estruturais e aumento de produtividade
Sem reformas estruturais robustas — como redução da burocracia, incentivo ao empreendedorismo e maior abertura comercial —, os países emergentes correm o risco de serem meros consumidores passivos de tecnologia, em vez de protagonistas na criação e uso da IA.
Capacitação e redes de proteção: as soluções possíveis
Para evitar um cenário de exclusão digital e social, o FMI recomenda que os governos de países emergentes adotem políticas de capacitação em larga escala. Investir na educação tecnológica da população e criar redes de proteção social adaptadas à nova realidade são medidas essenciais para garantir uma transição menos traumática para a era da inteligência artificial.
Ao preparar suas economias para absorver as transformações trazidas pela IA, os países emergentes podem não apenas proteger seus trabalhadores mais vulneráveis, mas também criar um ciclo virtuoso de inovação, competitividade e crescimento sustentável.
com informações da ONU News