Notícias falsas que alimentam a boataria acerca da doença preocupam especialistas, uma vez que elas podem atrapalhar tratamentos
Uma das doenças que mais mata no Brasil se destaca entre as principais notícias falsas sobre saúde que circulam nas redes sociais do país. Quando o assunto é câncer, não é raro encontrar um parente que repassa no grupo do WhatsApp da família informações sobre alimentos que curam tumores. Ou ainda um amigo que assegura ter lido um estudo de que micro-ondas é cancerígeno.
Essas fake news que alimentam a boataria acerca do câncer preocupam especialistas, uma vez que elas podem atrapalhar tratamentos. Não é brincadeira: o próprio Ministério da Saúde criou um WhatsApp para desmascarar informações falsas sobre doenças, através do número (61) 99289-4640.
“Essas informações falsas são muito prejudiciais porque ninguém sabe de onde essas notícias partiram, se tiveram algum embasamento científico ou se vieram da Organização Mundial da Saúde (OMS). O risco é que as pessoas acreditem nelas e não façam o que é o certo, se prejudicando com isso”, afirma a médica radioterapeuta Anne Karina Kiister Leon, do Instituto de Radioterapia Vitória (IRV).
Alimentos curativos
A especialista destaca que pelo menos 10 fake news circulam pela internet, como a de que o uso do celular e do micro-ondas pode causar câncer e a de que a máscara usada contra a Covid-19 provoca tumor de pulmão. Isso sem falar na lista interminável de alimentos que curam a doença, que contém graviola, gengibre, linhaça, melão amarelo e até água de coco quente.
“Não são alimentos que curam o câncer. Eles ajudam, sim, pois podem melhorar a imunidade. As pessoas têm que ter uma alimentação saudável para seguir com o tratamento. Então, é um conjunto de fatores. Falar que a graviola cura o câncer e a pessoa deixar de fazer uma cirurgia ou radioterapia, quimioterapia, isso não”, explica Anne Kiister.
Outra notícia falsa que a médica esclarece é a de que fumar narguilé ou cigarro eletrônico não aumenta o risco de câncer.
“Independentemente de ser narguilé ou cigarro eletrônico, os dois têm substâncias maléficas. A fumaça que a pessoa inala quente machuca todo o trato respiratório. Eles influenciam, sim, no câncer também”, adverte a médica.
Como se precaver
Anne Kiister orienta as pessoas a não repassar notícias sobre câncer se não tiverem certeza de sua origem.
“A orientação é que as pessoas verifiquem as referências das notícias que elas recebem. De onde elas partiram? Se essa referência procede, ela é significativa? É da OMS? Ela é da Sociedade Brasileira de Radioterapia, de Oncologia, de Cardiologia, de Pneumologia?”, explica.
A médica destaca que sociedades médicas disponibilizam em suas páginas na internet e-mails para que o público possa entrar em contato e conferir se uma determinada informação é verdadeira ou falsa.
Outra forma de a pessoa verificar se alguma notícia procede é conversando com o médico que realiza os exames de rotina dela.
“É importantíssimo ver de onde estão vindo essas notícias e não acreditar no que um vizinho falou, no que alguém leu na rede social. Isso não existe! É fundamental saber de onde partiram essas informações”, destaca Anne Kiister.
Dez fake news sobre câncer
1) Usar celular e micro-ondas pode causar câncer.
Não. As radiações utilizadas pelo celular e pelo micro-ondas são não ionizantes, ou seja, muito baixas. A chance de causar câncer é praticamente zero.
2) Graviola, gengibre, linhaça, melão amarelo e até água de coco quente são alimentos que “curam” o câncer.
Não são alimentos que curam o câncer. Eles ajudam, sim, podem melhorar a imunidade. As pessoas têm que ter uma alimentação saudável para seguir com o tratamento. Então, é um conjunto de fatores. Falar que a graviola cura o câncer e a pessoa deixar de fazer uma cirurgia ou radioterapia, quimioterapia, isso não.
3) Consumir carnes processadas, como linguiça, salsicha e bacon, é seguro e não aumenta o risco de causar tumores.
Em todos esses alimentos muito condimentados, as substâncias que são utilizadas para a conservação, para que eles não estraguem de forma rápida, podem desenvolver câncer. São substâncias cancerígenas. Mas isso não quer dizer que se uma pessoa comeu uma salsicha uma vez ou outra terá câncer. Não é assim. Isso ocorre quando há consumo exagerado, diário.
4) Omeprazol causa câncer de estômago.
O Omeprazol não causa câncer de estômago. Ele é um protetor gástrico.
5) Medicamentos contra hipertensão podem causar câncer.
Medicamentos contra hipertensão não causam câncer. Na verdade, todas essas medicações devem ser utilizadas com segurança e por indicação médica. Se for realmente necessário utilizar um remédio de pressão, quer dizer que o risco de a pessoa ter uma complicação cardiovascular e vir a morrer dele com certeza é maior.
6) Uso de máscara contra a Covid-19 provoca câncer de pulmão.
O uso de máscara não tem nada a ver com câncer de pulmão. A principal causa do tumor de pulmão é o tabagismo, embora não seja o único fator.
7) Tratamento de câncer pode esperar a pandemia da Covid-19 passar.
O tratamento não deve esperar a pandemia passar. Ainda não se sabe quando tudo isso terá fim. O câncer continua se desenvolvendo, então ele não espera. É preciso tratar não só o câncer, mas também as outras doenças, como as cardíacas e renais. Doenças crônicas não devem ser deixadas de lado. Até mesmo exames de prevenção precisam ser feitos, como os ginecológicos e os de próstata.
8) Não tomar sol evita o câncer de mama.
Essa informação realmente não procede.
9) Ter silicone faz com que a mulher tenha mais chances de ter câncer de mama.
O silicone não vai aumentar as chances de uma mulher ter câncer, mas pode dificultar o processo de detecção de um tumor de forma precoce. O que pode acontecer é a mulher não conseguir apalpar um caroço. Ou às vezes ser necessário um exame de imagem mais apurado do que só mamografia. A paciente precisa relatar ao médico ginecologista ou mastologista que tem uma prótese de silicone, além da técnica usada (por cima ou por baixo do músculo), para que o exame de rastreio seja realizado da melhor forma.
10) Fumar narguilé ou cigarro eletrônico não aumenta risco de câncer.
Independentemente de ser narguilé ou cigarro eletrônico, os dois têm substâncias maléficas. A fumaça que a pessoa inala quente machuca todo o trato respiratório. Eles influenciam, sim, no câncer também.