Nauru busca salvação no passaporte: venda de cidadania financia realocação climática

Se você tiver R$ 750 mil reais pode se tornar cidadão de Nauru, uma pequena ilha no Pacífico, e com isso conquistar acesso, sem necessidade de visto, a mais de 89 países, incluindo Reino Unido, Singapura e Hong Kong.

Diante do aumento do nível do mar que ameaça engolir sua terra, Nauru, uma nação insular no coração do Pacífico, tomou uma decisão drástica: vender sua cidadania. O objetivo ambicioso é angariar fundos para realocar seus 10 mil habitantes, que vivem em áreas costeiras vulneráveis à fúria do oceano. Sob o nome de “Cidadania para Resiliência Econômica e Climática”, o programa oferece passaportes em troca de um investimento mínimo de US$ 130 mil (aproximadamente R$ 750 mil), abrindo portas para 89 países sem a necessidade de visto, incluindo Reino Unido, Singapura e Hong Kong.

O presidente de Nauru, David Adeang, defende a iniciativa como um ato de sobrevivência. “Não se trata apenas de sobreviver, mas de construir um lar resiliente para nosso povo”, declarou. A primeira fase do plano de realocação, que visa transformar áreas devastadas pela mineração de fosfato em locais habitáveis, está orçada em US$ 60 milhões.

Ameaçada pelo avanço implacável do mar, a minúscula ilha de Nauru aposta na venda de cidadania por US$ 130 mil para salvar sua população e garantir um futuro em terras seguras.

A faceta oculta: riscos e desafios

Apesar da nobre intenção, a estratégia de Nauru não está imune a críticas. Henrietta McNeill, da Universidade Nacional Australiana, adverte que programas semelhantes em outras ilhas do Pacífico já foram explorados por criminosos para lavagem de dinheiro e outras atividades ilícitas. Nauru, que já enfrentou esse problema no passado, promete agora uma rigorosa análise prévia dos candidatos para evitar abusos.

Edward Clark, responsável pelo programa de cidadania, garante que o foco está em atrair investidores comprometidos com um futuro sustentável para a ilha. “Não buscamos apenas pessoas interessadas em um passaporte a mais, mas sim indivíduos que queiram contribuir para um futuro mais seguro e resiliente”, afirmou.

Um passaporte para o futuro: impacto global e mobilidade

Além de apoiar a luta contra as mudanças climáticas, os novos cidadãos de Nauru ganham acesso a um passaporte “neutro” que facilita viagens a importantes centros como Hong Kong, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido. O programa também se estende a cônjuges e dependentes, sem exigir residência mínima na ilha.

Com uma meta inicial de arrecadar US$ 5,7 milhões no primeiro ano, Nauru espera aumentar gradualmente esse valor para US$ 43 milhões, financiando a realocação de 90% de sua população para áreas mais seguras. A iniciativa representa um esforço pioneiro para enfrentar os desafios climáticos que ameaçam a existência de pequenas nações insulares.