A certeza de que a elite é impune e manipula as leis de acordo com seus interesses está de volta, com força, ao Brasil.
Nos últimos dias temos visto ações e revelações que mostram esse retrocesso.
Ministros tomam decisões que beneficiam grupos econômicos poderosos, sem o mínimo pudor. Um exemplo claro é a flexibilização de normas de controle ambiental para beneficiar o agronegócio, que aumentaram o desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica. Outro, é a aprovação pelo Congresso de lei enviada pelo presidente Bolsonaro para liberar sorteios e concursos nas emissoras de TV que beneficiam SBT, Record e Rede TV, empresas que apoiam o governo. Uma terceira é a determinação em empurrar cloroquina e hidroxicloroquina pela garganta abaixo dos brasileiros, mesmo com a Organização Mundial de Saúde dizendo que ela não tem eficácia no tratamento da Covid-19. Quem ganha com essa compra maciça de substâncias químicas pelo governo brasileiro?
Acima estão apenas algumas das medidas visíveis que vão na contramão do bom senso, mas que não apenas são decididas pelo governo, mas revelam um esforço descomunal para implementá-las apesar de todas as verdades contrárias.
Mas a certeza da impunidade das classes mais abastadas se revela também no dia-a-dia da vida nacional.
Uma patroa, esposa de prefeito, coloca uma criança de cinco anos sozinha no elevador e este ato se conclui com a morte da criança, que cai do nono andar. Com a permissão da lei, esta patroa paga uma fiança e é liberada. E como diz a mãe enlutada, se o caso fosse o contrário,- mãe negra e pobre causa a morte de criança branca e rica,- ela estaria presa, exposta e condenada antes mesmo de ser julgada.
Uma líder de um grupo de direita faz uma manifestação com simbologia claramente nazista e racista na frente do Supremo Tribunal Federal, ameaça bater em ministro, ofende a corte, e nem é acionada em processo pela Procuradoria Geral da República, apesar de o ato ter cometido uma série de infrações. Acontece que a dita líder apoia o presidente Bolsonaro e se inclui no contexto de interesse do chefe do Executivo em manter os demais poderes sob ataque.
A polícia invade uma casa, mata um jovem negro de 14 anos e quase 15 dias após o crime, policiais envolvidos na execução ainda não haviam sido ouvidos pelo Ministério Público em um processo que se arrasta no interesse dos policiais.
Até há alguns meses havia a ilusão de que o Brasil seguia na busca da redução das desigualdades. A prisão de políticos de ponta e grandes empresários nos “vendeu” essa percepção errônea. Mas isso agora é passado. Sabemos hoje que a realidade e a dura verdade são de que o Brasil continua sendo o que sempre foi: um país de castas e desigual, onde o racismo estrutural aceita como normal que, mesmo sendo 50% da população brasileira, os negros não estejam representados nos postos mais altos das instituições.
Por aqui falar em Direitos Humanos é ser acusado de gostar de marginal, como se todo ser humano fosse do mal. Mas essa lógica enviesada tem uma explicação histórica. Marginal é quem vive à margem e o que existe de mais marginal do que as Favelas: guetos onde os ex-escravos tiveram que se refugiar para sobreviver e que resistem até hoje? É óbvio que falar de Direitos Humanos é exigir tratamento igualitário e nesse país é um crime sequer sonhar com tal possibilidade.
Em resumo, nesse momento em que o mundo enfrenta uma pandemia que expõe claramente todas as desigualdades; em que mais um assassinato de um negro por um policial branco nos Estados Unidos provoca reações em diversos países; em que temos um grupo de ultradireitistas querendo impor suas ideias ao Brasil; é preciso lembrar que a luta da humanidade continua a ser por Liberdade, Justiça e Respeito (palavra-chave de tudo de bom que existe no mundo).