ONU alerta para aumento de infecções de HIV

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, divulgou um relatório alertando para o aumento de novas infecções de HIV em 50 países.

Das nações que têm o português como língua oficial estão na lista: Cabo Verde e Guiné-Equatorial, com um aumento de 5% a 25% de novas contaminações com o vírus da Aids. Os números referem-se a dados de 2010 a 2017 em pessoas acima de 15 anos.

Chile, Egito, Filipinas e República Tcheca estão entre os países, onde os novos casos de HIV subiram 50% ou mais.

O relatório “Um longo caminho a percorrer – fechando brechas, quebrando barreiras e corrigindo injustiças”, numa tradução livre, foi lançado em Paris nesta quarta-feira, O Unaids alerta que o tempo para se atingir a meta de redução da doença até 2020 está se esgotando, e que é preciso mais ação.

O documento ainda aponta para uma estagnação de recursos que ameaçam alguns avanços obtidos na luta contra o HIV. Metade das novas contaminações estão entre os grupos-chave e parceiros, que ainda não recebem os serviços necessários. Esses grupos incluem trabalhadores do sexo, gays e homens que têm sexo com outros homens, prisioneiros, migrantes, refugiados e transgêneros que são os mais afetados pelo risco do vírus. Eles representam mais de 50% dos soropositivos. Para se ter uma ideia, o risco de contrair o HIV é 13 vezes maior em trabalhadoras do sexo.

Ao apresentar o relatório, o chefe do Unaids, Michel Sidibé, afirmou que a agência estava soando o alarme, e disse que as mulheres são as mais afetadas pela situação atual. Para ele, os compromissos políticos assumidos não estão sendo financiados e, é preciso enfrentar o problema.

O lançamento do estudo foi abrigado pela coalizão Plus. Segundo o Unaids, o número de novas infecções baixou 18% nos últimos sete anos. A redução é mais forte na região mais afetada pelo HIV, o leste e o sul da África, com uma queda de 30%.

Dentre os países de lusófonos que conseguiram redução no número de novas contaminações estão: Portugal com uma queda de 25% a 50%, Guiné-Bissau e Moçambique com quedas de 5% a 25%, Angola e Brasil que obtiveram diminuição de mais ou menos 5% no número de novas infecções com o HIV.

Mas em outras partes do mundo como o leste europeu e a Ásia Central, a incidência de novos casos dobrou. Já o Oriente Médio e o Norte da África tiveram uma subida de mais de 25% nos últimos 20 anos.

Já está provado que o tratamento com antirretrovirais reduz a quantidade de mortes relacionadas ao HIV. O índice é o mais baixo neste século com 940 mil óbitos.

Mas a meta do Unaids é chegar a 2020 com menos de 500 mil mortes relacionadas à Aids.

O tratamento universal é outro objetivo da agência. No ano passado, cerca de 60% dos soropositivos recebiam os antirretrovirais, o total de pessoas comm HIV é de 36,9 milhões.

Uma das preocupações do Unaids é com o oeste e centro da África, onde apenas 26% das crianças com HIV e apenas quatro em cada 10 adultos recebem o tratamento.

Sidibé lembrou que em todo o mundo, se uma criança é infectada ou morre por causa do HIV já é muito.

O chefe do Unaids afirma que o direito à saúde não é negociável.

Ele lembrou ainda dos estigmas a pessoas que vivem com HIV.  Em muitos casos existem discriminação a jovens soropositivos que parte até mesmo de agentes de saúde, líderes religiosos, pais e membros da comunidade, o preconceito termina por impedir o acesso a tratamento. Em alguns casos, eles não conseguem sequer acessar um posto de saúde. A tuberculose continua sendo a maior causa de morte para pacientes soropositivos. Em setembro, a ONU vai realizar um Encontro de Alto Nível sobre o tema.

O chefe do Unaids deixou uma mensagem clara: o custo de não fazer nada é maior do que a ação para prevenir e tratar o HIV. No ano passado, havia US$ 20,6 bilhões para a resposta à doença, um aumento de 8% se comparado ao ano anterior.

A quantia equivale a 80% da meta proposta pela Assembleia Geral. Mas para Sidibé, só será possível atingir os objetivos do Unaids para 2020, se houver mais investimentos de doadores internacionais e de fontes em cada país.