Em meio a tensões comerciais não resolvidas, incertezas políticas internacionais e queda na confiança nos negócios, as Nações Unidas anunciaram uma ampla desaceleração na economia global e cortaram suas previsões de crescimento.
Os dados foram divulgados no relatório Situação Econômica Mundial e Perspectivas, do Departamento da ONU de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA), e mostram que todas as principais economias desenvolvidas, e a maior parte das regiões em desenvolvimento, enfraqueceram perspectivas para o crescimento.
No lançamento do seu principal relatório anual, em janeiro, economistas da ONU alertaram sobre “riscos no horizonte”. Cinco meses depois, com disputas comerciais e aumentos de tarifas, os temores se concretizaram e perspectivas contidas no relatório de janeiro foram revisadas para baixo: o crescimento para 2019 agora é previsto para moderados 2,7%, em queda em relação aos 3,4% em 2018.
O DESA alertou, no entanto, que se tensões comerciais aumentarem, os efeitos da mudança climática acelerarem, ou se houver uma deterioração repentina nas condições financeiras, a desaceleração pode ser mais acentuada ou mais prolongada.
Desaceleração ameaça agenda da ONU de combate à pobreza
A desaceleração prevista cria um cenário ruim para esforços para implementar a Agenda 2030 para Desenvolvimento Sustentável, que contém um conjunto de metas para acabar com a extrema pobreza e promover prosperidade, enquanto protege – ao mesmo tempo – o meio ambiente.
Uma economia global mais fraca coloca em risco investimentos essenciais em áreas como educação, saúde e ação climática.
Países em desenvolvimento provavelmente serão atingidos com mais força, especialmente aqueles cujas economias dependem fortemente de mercados que podem ser afetados por quaisquer tarifas adicionais e medidas posteriores de retaliação.
O relatório destaca que, embora a pobreza esteja concentrada em áreas rurais, a taxa de rápido crescimento de movimentos populacionais de campos para cidades deve ser gerida cuidadosamente.
Isto é particularmente relevante para a África e para o sul da Ásia. As duas regiões são as que possuem o maior número de pessoas em situação de pobreza e, segundo previsões, devem passar pelo ritmo mais rápido de urbanização nas próximas duas décadas.
Pedindo políticas mais abrangentes e centradas para responder à desaceleração, o economista-chefe da ONU e secretário-geral assistente para Desenvolvimento Econômico, Elliot Harris, disse em comunicado que “é cada vez mais claro que políticas que promovem desenvolvimento sustentável irão precisar olhar além do crescimento do PIB e identificar medidas novas e mais robustas de performance econômica, que reflitam de forma apropriada os custos da desigualdade, insegurança e mudança climática”.
A emergência climática continua causando desastres naturais mais frequentes e mais intensos, afetando desproporcionalmente os países mais vulneráveis.
Por conta disso, o relatório pede uma abordagem multilateral para políticas climáticas globais, incluindo um pedido explícito de precificação de carbono, que faria com que o setor privado e governos incluíssem os custos ambientais de consumo e produção em seus processos de tomada de decisões econômicas.