
Espécie invasora já percorreu mais de 1.500 km, desafiando cientistas e autoridades ambientais. No Brasil, risco de chegada preocupa especialistas.
O peixe-cobra — ou snakehead fish, como é conhecido nos Estados Unidos — está provocando alarme ambiental após se espalhar por milhares de quilômetros de rios norte-americanos. Originário da Ásia, o peixe-cabeça-de-cobra (Channa argus) foi introduzido acidentalmente no território americano no início dos anos 2000 e, desde então, tem se multiplicado de forma agressiva, competindo com espécies nativas e alterando o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos.
Um predador letal com aparência de serpente
Com aparência semelhante à de uma serpente, este peixe pode alcançar até um metro de comprimento, possui dentes afiados e é capaz de respirar ar atmosférico. Pior: sobrevive fora d’água por dias e consegue se mover sobre a terra úmida para migrar entre corpos d’água — uma habilidade que o torna extremamente difícil de conter.
Expansão alarmante em território americano
Desde que foi detectado pela primeira vez em Maryland, em 2002, o peixe-cobra já foi encontrado em pelo menos 15 estados, incluindo Missouri, Geórgia, Flórida e Illinois, cobrindo um território superior a 1.500 quilômetros. Em alguns locais, como o Refúgio Nacional de Vida Selvagem de Blackwater, estudos apontaram uma queda significativa na população de presas nativas após o estabelecimento do predador invasor.
Em 2019, as autoridades da Geórgia emitiram um alerta público pedindo que qualquer exemplar do peixe fosse morto imediatamente após a captura. A recomendação extrema se deve à dificuldade de erradicação da espécie, que já é considerada incontrolável em algumas regiões do país.
Impactos ambientais e econômicos
Os efeitos da presença do peixe-cobra vão além da biodiversidade. A perda de espécies nativas afeta diretamente comunidades ribeirinhas, a pesca esportiva e artesanal, além de comprometer toda a cadeia alimentar aquática. O custo para controle de espécies invasoras como essa já ultrapassa US$ 10 bilhões anuais nos EUA, segundo dados do Serviço de Pesca e Vida Selvagem.
“Esses peixes são extremamente resistentes, agressivos e adaptáveis. Uma vez que se estabelecem, se tornam quase impossíveis de eliminar”, afirma Steven P. Minkkinen, biólogo do governo americano, em entrevista ao Washington Post.
Riscos para o Brasil: um alerta ambiental urgente
Ainda que o peixe-cobra não tenha sido registrado em ambientes naturais do Brasil, o risco de sua introdução acidental ou por tráfico de animais exóticos preocupa cientistas. Segundo a Sociedade Brasileira de Ictiologia, se a espécie for introduzida em ecossistemas como os da Amazônia, Pantanal ou Cerrado, poderá causar impactos semelhantes — ou até mais devastadores — do que nos Estados Unidos.
Entre os principais perigos estão:
- A competição com peixes nativos por alimento e território;
- O desequilíbrio nas cadeias alimentares;
- A reprodução acelerada e em larga escala;
- O alto poder de adaptação a diferentes temperaturas e habitats;
- E a ausência de predadores naturais nos rios brasileiros.
Além dos danos à biodiversidade, a presença do peixe-cobra poderia afetar economicamente setores como a pesca e a aquicultura. Atualmente, o Ibama e o ICMBio mantêm restrições à importação e comercialização dessa espécie, mas o tráfico de fauna aquática e a criação ilegal ainda representam um ponto crítico de vigilância.
O caso americano como lição preventiva
A invasão do peixe-cobra nos rios americanos destaca os desafios globais na preservação da biodiversidade e no combate a espécies invasoras. A experiência dos Estados Unidos deve servir como alerta ao Brasil, que ainda está a tempo de prevenir um cenário semelhante.
A união entre órgãos ambientais, cientistas, pescadores e a sociedade civil é fundamental para evitar que o peixe-cobra ultrapasse fronteiras e se torne mais uma grave ameaça aos frágeis ecossistemas aquáticos brasileiros.