Peixe-leão avança sobre o litoral brasileiro: uma ameaça venenosa com ares tropicais

Imagem de Ivana Tomášková por Pixabay

Invasor silencioso, predador implacável: como milhares de peixes-leão estão desequilibrando os ecossistemas marinhos do Brasil.

Um peixe bonito, mas perigoso, está se multiplicando em ritmo alarmante nas águas quentes do Atlântico Sul. Cientistas, pescadores e ambientalistas soam o alarme — e a batalha por nossos recifes já começou.

Desde 2023, mergulhadores no litoral nordestino começaram a notar algo incomum. Em meio aos recifes coloridos, um peixe listrado, de nadadeiras exuberantes e comportamento ousado se fazia cada vez mais presente. Era o peixe-leão (Pterois volitans), espécie nativa do Indo-Pacífico, mas que agora se tornava o mais novo vilão ecológico das águas brasileiras.

Com aparência digna de aquário ornamental — espinhos longos, listras vibrantes e uma pose quase real — o peixe-leão esconde um veneno potente e uma voracidade sem limites. Ele se alimenta de tudo: pequenos peixes, crustáceos e moluscos, sem predadores naturais por aqui. Resultado? Um desequilíbrio ecológico de escala dramática.

Máquina de Caça

“Ele é uma máquina de caça. Onde ele aparece, a biodiversidade despenca”, alerta o biólogo marinho André Carvalho, que monitora a população da espécie na costa da Bahia.

Teorias não faltam sobre como esse predador chegou até aqui. A mais aceita é a de que o peixe-leão foi introduzido acidentalmente no Caribe por aquaristas nos anos 80. De lá, expandiu sua presença até alcançar a costa brasileira pelas correntes marítimas, especialmente através da Guiana Francesa. Mas o que antes era esporádico agora virou epidemia. O aumento da temperatura das águas e a ausência de controle natural transformaram o litoral brasileiro em um paraíso para o predador.

O impacto é duplo: ambiental e econômico. O peixe-leão devora espécies jovens, essenciais para a pesca artesanal. Em regiões como o litoral do Ceará, comunidades que dependem da pesca para viver já observam mudanças na oferta de pescado. “Nos últimos meses, o número de peixinhos nos arrecifes caiu. E quando mergulhamos, só dá ele”, relata Raimundo Silva, pescador de Jericoacoara.

Além disso, o veneno de seus espinhos — embora raramente letal — pode causar dor intensa, náuseas e paralisia temporária, afastando turistas de pontos de mergulho. Uma ameaça que machuca mais do que o corpo: fere também o turismo e a economia local.

Ações de controle

Diante disso, surgem ações de controle. Mergulhadores estão sendo treinados para capturar a espécie com equipamentos especiais. Algumas ONGs promovem até torneios de caça ao peixe-leão. Em Fernando de Noronha, ele já figura no cardápio de restaurantes, como forma de estimular o consumo humano e reduzir sua população.

Mas especialistas alertam: sem uma política nacional integrada, as ações continuarão sendo um “pente fino em um deserto de areia”. O risco é de que a proliferação chegue a outros biomas, como os manguezais e áreas de proteção ambiental no Sudeste.

Para vencer essa guerra silenciosa, será preciso mais do que anzóis e arpões. Precisamos de informação, políticas públicas e, quem sabe, até de uma boa dose de criatividade. Afinal, o peixe-leão é saboroso e nutritivo — e se é para enfrentá-lo, que seja com garfo, faca e inteligência ambiental.

O peixe-leão é um lembrete incômodo de que a natureza responde aos desequilíbrios que causamos. O inimigo agora vive em nossos recifes, camuflado em beleza e veneno. Cabe a nós escolher: vamos assistir ou reagir?