Produção industrial cai em todos os 15 locais pesquisados pela primeira vez em 8 anos

Queda, na comparação com março de 2019, no Espírito Santo foi de -14,2%, a segunda maior do país, atrás apenas de Santa Catarina (-15,6%)

A pandemia de Covid-19 interferiu diretamente para a queda da atividade industrial do país na passagem de fevereiro para março, mostra a Pesquisa Industrial Mensal Regional, divulgada nesta quinta (14) pelo IBGE. É a primeira vez em oito anos que todas as 15 localidades recuam, já que o estado do Mato Grosso entrou na pesquisa somente em 2012. O mais próximo desse resultado aconteceu em maio de 2018, com a greve dos caminhoneiros, que derrubou a produção industrial em 14 dos 15 locais.

“Os dados de março são efeitos diretos do isolamento social que afetou o processo de produção no Brasil”, explica o analista da pesquisa, Bernardo Almeida. Ele lembra que, no formato antigo, com 14 locais, a única queda generalizada ocorreu em novembro de 2008, por consequência da crise financeira global.

Por concentrar mais de um terço (34%) da indústria nacional, São Paulo foi o local que mais influenciou para o resultado nacional de março (-9,1%), com queda de 5,4%. Essa foi a segunda taxa negativa do estado consecutiva, acumulando em fevereiro e março perda de 6,6%. Duas atividades contribuíram fortemente para essa queda: veículos, um dos setores que mais atua no estado, e bebidas.

Também ajudaram a diminuir a média nacional os estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que apresentaram recuos de 20,1% e 17,9%, respectivamente. O Ceará, com -21,8%, foi o local que apresentou o maior recuo em termos absolutos, mas apenas o sétimo em termos de influência direta.

Também o Pará (-12,8%), o Amazonas (-11%) e toda a Região Nordeste (-9,3%) apresentaram recuos mais intensos do que a média nacional. Já Pernambuco (-7,2%), Espírito Santo (-6,2%), Bahia (-5,0%), Paraná (-4,9%), Mato Grosso (-4,1%), Goiás (-2,8%), Rio de Janeiro (-1,3%) e Minas Gerais (-1,2%) tiveram índices negativos abaixo da média do país.

Na comparação com março de 2019, a indústria teve queda de 3,8%, sendo que 11 dos 15 locais pesquisados mostraram resultados negativos. “As consequências da pandemia do novo coronavírus ficam ainda mais claras nessa comparação, já que o chamado ‘efeito-calendário’ foi positivo em março de 2020, que teve 22 dias úteis, três a mais que 2019”, ressalta Bernardo.

Novamente, São Paulo influencia bastante o resultado, com 4,2% de queda. No estado, houve recuo em 14 das 18 atividades. A taxa negativa foi puxada principalmente pela queda da produção de automóveis e outros equipamentos de transporte, como a produção de aviões.

Também contribuíram para o resultado negativo os estados de Santa Catarina (-15,6%), Espírito Santo (-14,2%), Rio Grande do Sul (-13,7%) e Ceará (-10,5%). Por outro lado, Rio de Janeiro (9,4%) e Bahia (5,8%) mostraram os avanços mais intensos na comparação de março de 2020 com março de 2019. No Rio de Janeiro, 10 das 14 atividades apresentaram crescimento.

“O resultado no Rio de Janeiro foi impulsionado, em grande parte, pela alta nas atividades de indústrias extrativas (óleos brutos de petróleo e gás natural) e produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (óleos combustíveis, gás liquefeito de petróleo e naftas para petroquímica)”, enumera Bernardo.

Já na Bahia, os maiores impactos foram a alta nas atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, além da taxa positiva de produtos alimentícios. Paraná (1,6%) e Pernambuco (1,4%) foram os demais estados com aumento de produção em comparação com março de 2019.