
A realidade crua por trás dos números: desigualdade e descaso na saúde materna carioca.
No coração do Brasil, onde o samba ecoa e o Cristo Redentor abençoa, um paradoxo sombrio se revela: o Rio de Janeiro, um estado rico e vibrante, ostenta uma taxa de mortalidade materna alarmante, superando até mesmo regiões mais pobres do país. Como um estado com hospitais de ponta e tecnologia de ponta pode falhar em proteger suas mães? A resposta, como um romance policial, se esconde em camadas complexas de negligência, desigualdade e descaso.
Verificando os dados
Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de mortalidade materna no Brasil em 2021 foi de 57,9 óbitos por 100 mil nascidos vivos. No entanto, no Rio de Janeiro, esse número chegou a 72,9 óbitos por 100 mil nascidos vivos, enquanto no Nordeste foi de 58,1 e no Norte, de 67,5. Ou seja, o Rio de Janeiro, apesar de ser um estado rico e com infraestrutura médica avançada, apresenta um desempenho pior do que regiões historicamente mais carentes.

Possíveis causas
1. Falta de investimento em saúde básica: Apesar de contar com hospitais de referência e tecnologia avançada, o Rio de Janeiro sofre com a falta de investimento em atenção primária. A rede básica de saúde, que deveria garantir o acompanhamento pré-natal de qualidade, é insuficiente e desorganizada. Muitas gestantes dependem do SUS (Sistema Único de Saúde), que no estado enfrenta problemas crônicos de superlotação, falta de profissionais e descontinuidade de programas.
2. Desigualdades sociais: O Rio de Janeiro é um estado marcado por contrastes sociais extremos. Enquanto a capital e algumas cidades da região metropolitana concentram riqueza, outras áreas, especialmente no interior e nas periferias, enfrentam pobreza e falta de acesso a serviços básicos. Gestantes em situação de vulnerabilidade social têm maior dificuldade para acessar pré-natal adequado e atendimento de emergência.
3. Violência urbana: A alta taxa de violência no estado, especialmente nas áreas mais pobres, impacta diretamente a saúde materna. Mulheres grávidas enfrentam dificuldades para se deslocar até unidades de saúde devido à insegurança, e há casos de gestantes que morrem vítimas de violência, o que contribui para o aumento da mortalidade materna.
4. Falta de planejamento e gestão: O Rio de Janeiro enfrenta problemas crônicos de gestão pública, com frequentes mudanças na administração e falta de continuidade em políticas de saúde. Programas voltados para a saúde da mulher muitas vezes são descontinuados ou não são implementados de forma eficaz.
5. Concentração de serviços de saúde: A infraestrutura médica do estado está concentrada na capital e em poucas cidades, o que dificulta o acesso para gestantes de outras regiões. No Norte e Nordeste, apesar das dificuldades, há uma maior distribuição de serviços básicos de saúde, o que pode contribuir para uma cobertura mais ampla do pré-natal.

Um sistema em colapso: a saga da saúde básica no Rio
Imagine uma gestante, Maria, moradora de uma favela carioca. Seus sonhos de maternidade se transformam em pesadelo ao enfrentar a dura realidade do sistema de saúde. A falta de investimento em atenção primária a impede de ter um pré-natal adequado. A superlotação dos hospitais públicos a deixa à mercê da própria sorte. A cada esquina, a violência urbana a assombra, limitando seu acesso aos serviços de saúde.
A elite predatória e o abismo social: uma tragédia anunciada
O economista Mauro Osório, com a frieza de um legista, aponta o dedo para a “elite política particularmente predatória” que degrada os serviços públicos. A concentração de riqueza na capital e a negligência com as periferias criam um abismo social onde a vida de uma mãe pobre vale menos.
A esperança que vem do Norte e Nordeste: uma lição de humanidade
Enquanto o Rio se afoga em sua própria ineficiência, o Norte e o Nordeste, com menos recursos, mostram que a esperança ainda existe. Isso se deve, em parte, a programas federais e estaduais focados em saúde da mulher, como a ampliação do acesso ao pré-natal e a melhoria da rede de assistência ao parto. Além disso, a atuação de agentes comunitários de saúde nessas regiões tem sido fundamental para garantir o acompanhamento das gestantes.
Um chamado à ação: O Rio precisa renascer
A alta taxa de mortalidade materna no Rio é um grito de socorro. É um reflexo da nossa sociedade, que prioriza o lucro em detrimento da vida. Para reverter essa tragédia, precisamos de um pacto pela saúde da mulher. Investimentos em atenção primária, combate à violência e gestão pública eficiente são urgentes.
O futuro da maternidade carioca: uma escolha da sociedade
A morte materna não é apenas um número. É a história de Maria, de tantas outras Marias, que sonham em dar à luz um futuro melhor. O Rio de Janeiro, com sua beleza e potencial, precisa escolher: ser palco de um paradoxo cruel ou um exemplo de justiça social.