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Idosos e portadores de diabetes e hipertensão estão entre os mais vulneráveis ao calor extremo. Estudo aponta necessidade urgente de que as cidades desenvolvam planos de adaptação para mitigar os impactos do aumento das temperaturas.
O país enfrenta uma onda de calor sem precedentes, com temperaturas atingindo níveis alarmantes em várias regiões. No Espírito Santo, as temperaturas têm batido recordes, com máximas acima de 41°C em cidades como Vitória e Cariacica, colocando em risco a saúde da população, especialmente dos grupos mais vulneráveis. No Rio de Janeiro, a situação também é crítica: pela primeira vez desde a criação do sistema de monitoramento de calor, em junho de 2024, a cidade alcançou o Nível 4 de calor, com temperaturas superando os 40°C por três dias consecutivos. A previsão indica que os termômetros podem chegar a 42°C nos próximos dias.
Calor extremo e impactos na saúde
De acordo com uma pesquisa recente da Fiocruz, as altas temperaturas têm relação direta com o aumento da mortalidade, particularmente entre idosos e pessoas com doenças crônicas como diabetes, hipertensão e insuficiência renal. João Henrique de Araujo Morais, autor do estudo e pesquisador da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, alerta que o Nível 4 de calor – quando a temperatura ultrapassa 40°C por pelo menos quatro horas – está associado a um aumento de 50% na mortalidade por causas relacionadas ao calor. No Nível 5, com índices de calor acima de 44°C, o risco se agrava ainda mais, dobrando o número de mortes entre os idosos.
A pesquisa introduziu uma métrica inovadora, chamada Área de Exposição ao Calor (AEC), que considera não apenas a temperatura máxima, mas também o tempo de exposição ao calor. Para os idosos, por exemplo, uma AEC de 64°Ch aumenta em 50% o risco de morte por causas naturais, enquanto uma AEC de 91,2°Ch dobra esse risco. Esses dados reforçam a importância de medidas preventivas, como hidratação constante, uso de protetor solar e evitar atividades ao ar livre durante os horários mais quentes do dia.
Recomendações e medidas preventivas
Prefeituras da Região Metropolitana do Rio de Janeiro colocaram bebedouros em pontos de grande concentração de pessoas para fornecer água e ajudar na hidratação, reduziram horários de aulas e de trabalho de funcionários públicos que atuam nas vias das cidades e emitiram avisos sobre os riscos à saúde, uma série de recomendações foi divulgada para proteger a população:
- Hidratação constante: Beba água ou sucos naturais mesmo sem sentir sede.
- Evite exposição ao sol: Principalmente entre 10h e 16h, horário em que o calor é mais intenso.
- Roupas leves: Opte por tecidos frescos e claros para facilitar a transpiração.
- Cuidados com crianças e idosos: Mantenha-os em ambientes arejados e protegidos do sol.
- Proteção extra: Use protetor solar e chapéus de abas largas para evitar queimaduras e desidratação.
Um alerta para o futuro
As altas temperaturas no Brasil são um reflexo direto das mudanças climáticas, que vêm intensificando fenômenos meteorológicos extremos. A pesquisa da Fiocruz reforça a necessidade urgente de planos de adaptação ao calor nas cidades brasileiras. “Populações específicas, como trabalhadores expostos ao sol, moradores de rua e habitantes de áreas urbanas densamente construídas – conhecidas como Ilhas de Calor Urbano – estão em maior risco”, afirma João Henrique.
Para especialistas, ações como a implementação de protocolos municipais, a criação de espaços públicos climatizados e campanhas de conscientização são essenciais para mitigar os impactos do calor extremo. “É fundamental que outras cidades sigam o exemplo do Rio de Janeiro e adotem medidas semelhantes para proteger suas populações”, conclui o pesquisador.
Um chamado à ação
A onda de calor que assola o Brasil, especialmente o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, é um alerta claro dos desafios impostos pela emergência climática. Com temperaturas atingindo níveis perigosos e riscos crescentes para a saúde pública, é crucial que governos, empresas e cidadãos trabalhem juntos para enfrentar essa ameaça. Proteger os mais vulneráveis e adaptar nossas cidades ao calor extremo não é apenas uma questão de saúde, mas de sobrevivência.