
Mercados despencam, empresas paralisam e países reagem em cadeia à política tarifária de Trump, que promete reconfigurar o comércio internacional.
Um terremoto econômico com epicentro em Washington
O arrepio na espinha financeira global tornou-se um tremor sentido em todas as praças nesta semana. O estopim: a mais recente salva de tarifas anunciadas pelo presidente americano Donald Trump. A resposta não tardou. Como um eco quase imediato, a China contra-atacou hoje com uma tarifa espelhada de 34% sobre produtos americanos, enquanto o Canadá, pego no fogo cruzado automotivo, também retaliou. O resultado? Mercados em queda livre, o preço do petróleo despencando e o fantasma de uma recessão global pairando mais ameaçador do que nunca desde os dias sombrios da pandemia.
A tensão, que já vinha se acumulando, escalou rapidamente. As tarifas de Trump sobre produtos chineses, anunciadas anteontem e somadas a taxas anteriores, elevam a barreira para importações da China a impressionantes 54%. Pequim não hesitou. Chamando a ação americana de “típica intimidação unilateral”, o Ministério do Comércio chinês confirmou que suas próprias tarifas de 34% entram em vigor já na próxima quinta-feira. A medida é um golpe direto, mas não o único: controles sobre exportações de terras raras – minerais cruciais para a tecnologia moderna – e uma contestação formal na Organização Mundial do Comércio (OMC) completam o pacote de retaliação.
O dia que mudou o comércio global
Na tarde de quarta-feira (02/4) Donald Trump anunciara novas tarifas de importação contra diversos países do mundo. Para a China couberam 34% sobre as importações — um movimento que, segundo o presidente, visa “corrigir décadas de abuso comercial”. Mas o efeito imediato foi o oposto: o início de uma nova guerra comercial global.
Em menos de 48 horas, a China respondeu com a mesma moeda. O Canadá seguiu o mesmo caminho. E agora, os olhos do mundo se voltam para a União Europeia, que prepara sua contraofensiva. Enquanto isso, mercados afundam, fábricas paralisam e investidores começam a murmurar uma palavra proibida desde 2020: recessão.
Trump, tarifas e a matemática da discórdia
O plano tarifário de Trump — baseado, segundo seu governo, em uma “conta justa” para reduzir o déficit comercial americano — soou, para especialistas, como um improviso travestido de estratégia. “É uma conta de padaria”, disparou Pedro Rossi, economista da Unicamp. A fórmula, revelada pela agência USTR, ignora os serviços (onde os EUA são superavitários) e baseia-se apenas nos bens físicos. O resultado? Um cálculo que dobra o impacto tarifário real.
“Não há justificativa econômica. É puro populismo comercial”, afirma Thomas Sampson, da London School of Economics.
Pequim reage: tarifas, retaliações e ameaças veladas
A China não esperou. Em comunicado oficial, o Ministério do Comércio classificou a medida americana como “intimidação unilateral” e impôs uma tarifa de 34% sobre todos os produtos americanos — o dobro da carga anterior. Além disso, anunciou restrições na exportação de terras raras, minerais essenciais para a indústria de tecnologia dos EUA.
E mais: a China prometeu levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), elevando o embate ao palco multilateral.
Para produtores brasileiros, uma fresta de luz: a soja nacional, por exemplo, ganha competitividade frente à americana no mercado chinês.
Canadá entra no jogo: carros como arma de retaliação
Do outro lado do Atlântico Norte, o Canadá não ficou calado. Em resposta à tarifa americana sobre veículos estrangeiros, impôs uma taxa de 25% sobre os carros produzidos nos EUA. Mas com uma ressalva: veículos que atendam à regra de origem do acordo comercial da América do Norte estão isentos.
O impacto foi imediato. A Stellantis, gigante do setor automotivo, suspendeu operações em fábricas no Canadá e México, afetando marcas como Jeep, Chrysler e Fiat.
Europa observa e prepara resposta estratégica
Enquanto a tempestade se alastra, a União Europeia optou pela cautela — mas não pelo silêncio. Fontes em Bruxelas indicam que tarifas específicas contra produtos americanos já estão sendo desenhadas, principalmente nos setores agrícola e aeronáutico.
“A Europa sabe que a escalada não beneficia ninguém. Mas, diante da agressividade de Washington, a neutralidade é impossível”, diz Clara Müller, analista de comércio internacional em Berlim.
Bolsa e petróleo em queda, medo no ar
Os reflexos nos mercados foram imediatos. As bolsas asiáticas fecharam em queda de até 4%. Na Europa, a tendência foi ainda pior. O petróleo desabou mais de 7% e o S&P 500 teve seu pior desempenho desde o início da pandemia: queda de 6%.
“O mercado está precificando uma recessão global”, afirmou George Saravelos, do Deutsche Bank, ao Financial Times.
Histórias além dos gráficos: a fábrica silenciosa e o produtor isolado
Em Windsor, no Canadá, a linha de montagem de minivans da Stellantis amanheceu silenciosa. Mais de 1.200 trabalhadores foram dispensados temporariamente. “Meu pai trabalhou aqui. Eu também. Nunca vimos isso acontecer”, contou Jamie, operária da fábrica há 14 anos.
No interior do Missouri, o agricultor Tom Keegan observa silos cheios de soja que talvez jamais cheguem à China. “Eles disseram que isso protegeria a gente. Por enquanto, só vejo minha renda evaporar.”
O futuro do comércio global: entre muros e pontes
As tarifas de Trump são mais do que números. Representam uma guinada geopolítica. No lugar do multilateralismo, o nacionalismo econômico. No lugar das pontes comerciais, muros tarifários.
A escalada das tensões comerciais desenha um horizonte de incertezas. As tarifas e retaliações não são apenas números em planilhas; são decisões com potencial para redesenhar cadeias de suprimentos globais, frear o crescimento econômico e impactar diretamente a vida de milhões de pessoas. Enquanto os mercados tentam digerir a volatilidade e os governos calculam seus próximos movimentos, a única certeza é que a economia global entrou em águas turbulentas, e a navegação exigirá cautela e, talvez, uma mudança de rota inesperada.
A pergunta que paira no ar: até onde essa guerra pode ir? E quem pagará o preço mais alto?